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Longe do espetáculo
Perde fôlego a criação de postos de trabalho; sem atacar males crônicos, país continuará a assistir evolução medíocre no PIB
QUE O crescimento da
economia do país neste mandato presidencial nem sequer se
aproxima do "espetáculo" prometido pelo presidente, já se sabia. Mas que o modesto crescimento efetivamente alcançado
tampouco seja capaz de reduzir o
desemprego de modo contínuo,
ainda que gradual, esse é um desdobramento para muitos inesperado -e preocupante.
No entanto, é o que vem ocorrendo, de acordo com a Pesquisa
Mensal de Emprego (PME), do
IBGE. O levantamento apurou
que, entre junho e julho, nas seis
maiores regiões metropolitanas
a taxa de desocupação -a proporção das pessoas em idade de
trabalhar que procura uma vaga
e não encontra- subiu de 10,4%
para 10,7%, chegando ao nível
mais alto desde abril de 2005.
Não se tratou de oscilação sazonal; pelo contrário, em geral o
desemprego recua em julho.
Tampouco foi um movimento
isolado, pois a taxa de desocupação média dos sete primeiros
meses deste ano, de 10,2%, foi
idêntica à observada em igual período do ano passado. Revela-se
um estancamento do desemprego num nível muito elevado. O
coordenador da pesquisa do IBGE comentou, à luz do resultado
de julho, que "acendeu a luz de
atenção, alguma coisa no mercado de trabalho não vai bem".
Já o ministro do Trabalho,
Luiz Marinho, preferiu a ironia:
"Não sei onde o IBGE encontrou
esses números". Agregou a esse
desplante uma consideração
correta, a de que a PME, ao se
restringir geograficamente a
uma fração do país, não fornece
um retrato da evolução do mercado de trabalho como um todo.
A partir dessa constatação, sugeriu que o quadro nacional diverge qualitativamente daquele
presente nas metrópoles.
De fato, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) -levantamento nacional
do Ministério do Trabalho restrito às vagas com carteira assinada-, sugere que a geração de
empregos tem sido menos dinâmica nas metrópoles do que nas
demais regiões do país.
Isso não significa, no entanto,
que o problema da desocupação
elevada e sem sinal claro de recuo esteja restrito às grandes cidades. O próprio Caged apurou
que, em nível nacional, a abertura líquida de vagas de trabalho
formal foi menor nos primeiros
sete meses do ano do que no
mesmo período de 2005. É mais
um indício forte de que já não está em curso uma redução do desemprego no país neste ano.
A inação da política econômica
diante desses sinais preocupantes pode custar à economia brasileira mais um ciclo de crescimento pífio. Começa um movimento discreto de revisão, para
baixo, das previsões para o PIB
de 2006 -analistas vão se aproximando do piso da "banda" que
vai de 3,5% a 4%. A continuar essa tendência, é questão de tempo
até as projeções para 2007 também começarem a ser reduzidas.
Cortar despesas públicas, cortar mais os juros básicos e reforçar o combate à valorização excessiva do real são atitudes que
precisam ser tomadas para retirar a economia brasileira do horizonte da mediocridade.
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