São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2006

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Longe do espetáculo

Perde fôlego a criação de postos de trabalho; sem atacar males crônicos, país continuará a assistir evolução medíocre no PIB

QUE O crescimento da economia do país neste mandato presidencial nem sequer se aproxima do "espetáculo" prometido pelo presidente, já se sabia. Mas que o modesto crescimento efetivamente alcançado tampouco seja capaz de reduzir o desemprego de modo contínuo, ainda que gradual, esse é um desdobramento para muitos inesperado -e preocupante.
No entanto, é o que vem ocorrendo, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE. O levantamento apurou que, entre junho e julho, nas seis maiores regiões metropolitanas a taxa de desocupação -a proporção das pessoas em idade de trabalhar que procura uma vaga e não encontra- subiu de 10,4% para 10,7%, chegando ao nível mais alto desde abril de 2005.
Não se tratou de oscilação sazonal; pelo contrário, em geral o desemprego recua em julho. Tampouco foi um movimento isolado, pois a taxa de desocupação média dos sete primeiros meses deste ano, de 10,2%, foi idêntica à observada em igual período do ano passado. Revela-se um estancamento do desemprego num nível muito elevado. O coordenador da pesquisa do IBGE comentou, à luz do resultado de julho, que "acendeu a luz de atenção, alguma coisa no mercado de trabalho não vai bem".
Já o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, preferiu a ironia: "Não sei onde o IBGE encontrou esses números". Agregou a esse desplante uma consideração correta, a de que a PME, ao se restringir geograficamente a uma fração do país, não fornece um retrato da evolução do mercado de trabalho como um todo. A partir dessa constatação, sugeriu que o quadro nacional diverge qualitativamente daquele presente nas metrópoles.
De fato, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) -levantamento nacional do Ministério do Trabalho restrito às vagas com carteira assinada-, sugere que a geração de empregos tem sido menos dinâmica nas metrópoles do que nas demais regiões do país.
Isso não significa, no entanto, que o problema da desocupação elevada e sem sinal claro de recuo esteja restrito às grandes cidades. O próprio Caged apurou que, em nível nacional, a abertura líquida de vagas de trabalho formal foi menor nos primeiros sete meses do ano do que no mesmo período de 2005. É mais um indício forte de que já não está em curso uma redução do desemprego no país neste ano.
A inação da política econômica diante desses sinais preocupantes pode custar à economia brasileira mais um ciclo de crescimento pífio. Começa um movimento discreto de revisão, para baixo, das previsões para o PIB de 2006 -analistas vão se aproximando do piso da "banda" que vai de 3,5% a 4%. A continuar essa tendência, é questão de tempo até as projeções para 2007 também começarem a ser reduzidas.
Cortar despesas públicas, cortar mais os juros básicos e reforçar o combate à valorização excessiva do real são atitudes que precisam ser tomadas para retirar a economia brasileira do horizonte da mediocridade.


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