São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2006

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Fé que enriquece

AS INFORMAÇÕES relativas à seita religiosa "Jesus: a Verdade que Marca", reveladas pelo jornal "Agora", sugerem um enredo de exploração de mão-de-obra, lavagem de dinheiro e aliciamento ideológico que é preciso investigar.
Os pastores responsáveis mantêm cerca de 600 fiéis em comunidades religiosas em cinco fazendas no sul de Minas. Muitos são recrutados na Grande São Paulo. De acordo com as polícias Civil e Federal e o Ministério Público, que apresentaram denúncia à Justiça, a rede movimentou, de agosto de 2003 a maio de 2006, mais de R$ 10 milhões em compras de imóveis, terras, estabelecimentos comerciais, carros e rádios clandestinas.
As denúncias mais graves dizem respeito às condições de trabalho dos fiéis. De acordo com depoimentos de ex-integrantes do grupo, nunca houve salário: o pagamento era feito em roupas e alimentos extraídos da lavoura da fazenda. "Fomos percebendo que éramos escravos", afirmou um deles ao jornal. Mães revelaram ainda que foram impedidas pelos pastores de visitar os filhos nas comunidades.
Não é a primeira vez que uma seita religiosa é suspeita de enriquecer mediante doações não declaradas de seus fiéis. A se confirmarem as acusações, contudo, terá se configurado um caso particularmente grave de exploração da atividade religiosa.
É verdade que a adesão a grupos desse tipo é voluntária. Mas o que em outras épocas se travestia apenas de obscurantismo transformou-se num ramo atrativo comercialmente, em que se cometem ilícitos ao abrigo da fiscalização do Estado.
Os pastores foram indiciados pela polícia por estelionato, ocultação de bens e atentado contra as relações de trabalho. Mas só o prosseguimento das investigações pode revelar o efetivo teor da exploração.


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