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Fé que enriquece
AS INFORMAÇÕES relativas à
seita religiosa "Jesus: a
Verdade que Marca", reveladas pelo jornal "Agora", sugerem um enredo de exploração
de mão-de-obra, lavagem de dinheiro e aliciamento ideológico
que é preciso investigar.
Os pastores responsáveis mantêm cerca de 600 fiéis em comunidades religiosas em cinco fazendas no sul de Minas. Muitos
são recrutados na Grande São
Paulo. De acordo com as polícias
Civil e Federal e o Ministério Público, que apresentaram denúncia à Justiça, a rede movimentou,
de agosto de 2003 a maio de
2006, mais de R$ 10 milhões em
compras de imóveis, terras, estabelecimentos comerciais, carros
e rádios clandestinas.
As denúncias mais graves dizem respeito às condições de trabalho dos fiéis. De acordo com
depoimentos de ex-integrantes
do grupo, nunca houve salário: o
pagamento era feito em roupas e
alimentos extraídos da lavoura
da fazenda. "Fomos percebendo
que éramos escravos", afirmou
um deles ao jornal. Mães revelaram ainda que foram impedidas
pelos pastores de visitar os filhos
nas comunidades.
Não é a primeira vez que uma
seita religiosa é suspeita de enriquecer mediante doações não
declaradas de seus fiéis. A se confirmarem as acusações, contudo,
terá se configurado um caso particularmente grave de exploração da atividade religiosa.
É verdade que a adesão a grupos desse tipo é voluntária. Mas
o que em outras épocas se travestia apenas de obscurantismo
transformou-se num ramo atrativo comercialmente, em que se
cometem ilícitos ao abrigo da fiscalização do Estado.
Os pastores foram indiciados
pela polícia por estelionato,
ocultação de bens e atentado
contra as relações de trabalho.
Mas só o prosseguimento das investigações pode revelar o efetivo teor da exploração.
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