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Editoriais
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Escalada persecutória
A perseguição da presidente da
Argentina, Cristina Kirchner, contra meios de comunicação críticos
a seu governo ganhou novo capítulo com a decisão da Casa Rosada
de processar o diário "Clarín" por
"crimes contra a humanidade"
decorrentes da aquisição de uma
fábrica de papel-jornal em 1976.
Segundo a mandatária, o "Clarín" e seu concorrente "La Nación", que também será processado, se aproveitaram da fragilidade
da família que controlava a empresa Papel Prensa, perseguida
pela ditadura militar, para comprar as ações por um quarto do valor de mercado.
O processo será acompanhado
da tramitação de um projeto de lei
para transformar a produção e comercialização de papel-jornal em
setor de interesse nacional. Isso
obrigaria "Clarín" e "La Nación" a
venderem o insumo para seus
concorrentes -mais alinhados ao
governo- pelo mesmo preço de
que usufruem como proprietários.
As acusações são aparentemente infundadas. Os ex-proprietários
da Papel Prensa negam a versão
do governo. Maior conglomerado
de mídia do país, o Grupo Clarín
tem sido perseguido desde que
apoiou ruralistas na disputa contra o governo em torno dos impostos sobre exportação, em 2008.
De lá para cá, o Clarín foi submetido a uma grande blitz da Receita; foi obrigado a se desfazer de
emissoras de TV por causa de nova lei; viu ser revertida a fusão
com outro grupo na área de TV a
cabo; e teve anulada licença para
fornecer serviços na internet.
A perseguição avançou à esfera
pessoal. O Congresso tornou compulsórios exames de DNA em casos que envolvem supostas ligações com o regime militar. O diploma foi concebido para testar a hipótese de que os filhos da dona do
jornal foram sequestrados de presos políticos quando bebês.
À medida que se aproxima o
pleito presidencial de 2011, Cristina Kirchner avança nas intimidações. Resta esperar que a Justiça e
os setores comprometidos com a
democracia na Argentina impeçam que a escalada se materialize.
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