São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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Editoriais

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Escalada persecutória

A perseguição da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, contra meios de comunicação críticos a seu governo ganhou novo capítulo com a decisão da Casa Rosada de processar o diário "Clarín" por "crimes contra a humanidade" decorrentes da aquisição de uma fábrica de papel-jornal em 1976.
Segundo a mandatária, o "Clarín" e seu concorrente "La Nación", que também será processado, se aproveitaram da fragilidade da família que controlava a empresa Papel Prensa, perseguida pela ditadura militar, para comprar as ações por um quarto do valor de mercado.
O processo será acompanhado da tramitação de um projeto de lei para transformar a produção e comercialização de papel-jornal em setor de interesse nacional. Isso obrigaria "Clarín" e "La Nación" a venderem o insumo para seus concorrentes -mais alinhados ao governo- pelo mesmo preço de que usufruem como proprietários.
As acusações são aparentemente infundadas. Os ex-proprietários da Papel Prensa negam a versão do governo. Maior conglomerado de mídia do país, o Grupo Clarín tem sido perseguido desde que apoiou ruralistas na disputa contra o governo em torno dos impostos sobre exportação, em 2008.
De lá para cá, o Clarín foi submetido a uma grande blitz da Receita; foi obrigado a se desfazer de emissoras de TV por causa de nova lei; viu ser revertida a fusão com outro grupo na área de TV a cabo; e teve anulada licença para fornecer serviços na internet.
A perseguição avançou à esfera pessoal. O Congresso tornou compulsórios exames de DNA em casos que envolvem supostas ligações com o regime militar. O diploma foi concebido para testar a hipótese de que os filhos da dona do jornal foram sequestrados de presos políticos quando bebês.
À medida que se aproxima o pleito presidencial de 2011, Cristina Kirchner avança nas intimidações. Resta esperar que a Justiça e os setores comprometidos com a democracia na Argentina impeçam que a escalada se materialize.


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