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CLÓVIS ROSSI
Lula inventou uma fábula
SÃO PAULO - Para não dizer que o
presidente Lula mentiu sobre o que
aconteceu no almoço de 2002 nesta
Folha, em que se sentiu discriminado, digamos que ele contou uma
fábula, com escasso parentesco
com a realidade.
Para começar, o único presidente norte-americano que frequentou
a conversa não foi Bill Clinton, jamais mencionado, ao contrário do
que diz Lula, mas Abraham Lincoln. Foi Otavio Frias Filho, diretor
de Redação, quem lembrou que
Lincoln também não tivera educação superior, o que não impediu
que fizesse um bom governo.
Depois dessa observação nada
discriminatória, Otavio perguntou
por que Lula não se preocupou em
estudar mais, depois de ter se estabelecido na vida, como dirigente
sindical primeiro e como líder partidário depois.
Lula não respondeu nada, ao
contrário da fábula que conta agora. Limitou-se a dizer que se sentia
desrespeitado e que, por isso, não
responderia. A conversa ainda
transitou por outros temas durante
um tempo até que Otavio voltou a
perguntar, agora sobre a ligação do
PT com o fisiologismo.
De novo, Lula não respondeu, a
não ser para dizer que não tinha
culpa de que não estivesse bem nas
pesquisas o candidato do diretor de
Redação (do qual não deu o nome).
Levantou-se e foi embora.
A reação do então candidato foi
tão mais estranha porque, dias antes, Miriam Leitão fizera pergunta
parecida e Lula dera uma resposta
esperta: nenhuma universidade
prepara alguém para ser presidente
da República.
O que incomoda nesse episódio
não é ele em si, menor. É a fabulação que o presidente faz em torno
do que aconteceu. Por acaso, eu estava no almoço e sei perfeitamente
o que se disse e o que não se disse.
Como posso confiar em que Lula
não fabula também ao relatar encontros com políticos ou governantes estrangeiros?
crossi@uol.com.br
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