RIO DE JANEIRO - Os candidatos a presidente deveriam deixar as ruas em que fazem campanha e ir direto para o cinema. Se Lula, Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam assistissem ao documentário "Pro Dia Nascer Feliz", de João Jardim, em exibição no Festival do Rio -e deveriam fazê-lo- rasgariam seus programas de governo e levariam a professora Suzana, diretora de escola da periferia de São Paulo que aparece no filme, para Brasília a fim de dar algum pé de realidade ao que planejam para a educação.
A escola de Suzana é o retrato da desmotivação e dos conflitos que acarretam na evasão de alunos e na ausência de professores. "A escola tem de ser reinventada", diz Suzana. "O mundo está muito mais interessante lá fora", conclui entre a resignação e a desesperança, ao comentar a dificuldade de manter os alunos presentes e interessados.
Nas escolas da periferia de Pernambuco, Rio e São Paulo, os professores faltam por faltar. "O estresse é muito grande porque você passa a viver os problemas deles. E tem pouco a fazer. Preciso fazer terapia uma vez por mês para suportar", define uma das professoras no filme de João Jardim, mesmo diretor do excelente "Janela da Alma".
Jardim escapa do maniqueísmo ao contrapor escolas da periferia ao Colégio Santa Cruz, um dos mais tradicionais de São Paulo. Os problemas existem lá também -em níveis existenciais tão soturnos quanto o das periferias. "São dois mundos diferentes", diz uma aluna do Santa Cruz. "Não são dois mundos", rebate outra. "O problema é este: é o mesmo mundo."
Reinventar a escola, como sugere a professora Suzana, é tarefa que exige bem mais do que discursos em palanques. Há algo de muito errado quando os 88 minutos de duração de "Pro Dia Nascer Feliz" fazem mais pelo debate público sobre a educação do que três meses de campanha dos presidenciáveis, com seus discursos fora de foco.


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