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ELIANE CANTANHÊDE
A diplomacia e a fatura
BRASÍLIA - Lula se encontra com
Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa
(Equador) na próxima terça, em
Manaus. Três contra um, já que
Chávez é mentor dos movimentos
coordenados, e o Brasil é o alvo.
Morales já chutou o pau da barraca com a Petrobras e a empresa do
brasileiro Eike Batista. Correa, outro discípulo chavista, vai no mesmo caminho e ameaça expulsar a
Odebrecht e dar calote de US$ 243
milhões no BNDES. Ele acusa a
construtora de ter entregue ao país
uma usina "que não presta" e que,
de fato, está parada desde junho,
com sérios problemas.
Planalto, Itamaraty e a própria
Odebrecht resumem tudo a uma jogada politiqueira, só para reforçar a
posição interna do presidente. Aparentemente, confrontar o Brasil é
uma mina de votos, e Correa vai
submeter a nova Constituição do
Equador (e dele próprio) a um plebiscito no próximo domingo, dois
dias antes do encontro dos quatro
presidentes.
Isso, porém, não elimina a questão objetiva de que a usina precisa
realmente de consertos estimados
em milhões de dólares para voltar a
operar, e alguém terá de arcar com
o prejuízo. Não se trata (ainda) de
incidente diplomático, e Lula e Correa vão fazer política, ok. Mas e a
conta, quem (e quando) vai pagar?
Para sorte do Brasil, do BNDES e
da Odebrecht, conforme relatou
ontem o repórter Fabiano Maisonnave, Correa mantém uma relação
tensa com as multinacionais no
Equador, mas até agora não expulsou nenhuma nem cumpriu as
ameaças mais graves. Até nisso ele
segue as lições de seu mestre Chávez: late alto, mas não morde.
O enredo tende a ser assim: o
Equador recua, a Odebrecht paga
um preço com desconto -bem módico, comparado ao desgaste internacional por entregar uma obra
"que não presta". E Lula, Chávez,
Morales e Correa confraternizam,
como se nada tivesse acontecido.
Fim de uma crise. Até a próxima.
elianec@uol.com.br
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