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Crimes de Estado
DOIS MORTOS, 15 feridos,
quatro casas destruídas,
outras 30 evacuadas. Este
o saldo da explosão de uma loja
que vendia fogos de artifício em
Santo André, município da
Grande São Paulo.
Segundo avaliações iniciais dos
peritos, dificilmente uma explosão de tais dimensões poderia
acontecer num estabelecimento
que tivesse apenas fogos de artifício em seu estoque. Suspeita-se
que a matéria-prima para sua fabricação era guardada ali.
Em 2002, o dono da loja fora
preso, no mesmo local, por posse
ilegal de explosivos. O perigo potencial do estabelecimento não
era segredo na vizinhança. O que
mais causa revolta, num acontecimento como esse, é o fato de
que as reclamações dos cidadãos
não encontrem, por parte do poder público, canais eficientes e
rápidos de encaminhamento.
Polícia e Ministério Público
vão debruçar-se sobre o emaranhado burocrático que cerca o
acidente: há um espantoso auto
de vistoria do Corpo de Bombeiros, atestando a segurança do local. A venda de fogos de artifício,
mas não sua produção, estava
autorizada pela Polícia Civil. Não
havia sido concedido, entretanto, o alvará da prefeitura para
que a loja funcionasse.
Pode-se imaginar que tipo de
dificuldades e delongas encontrarão aqueles que quiserem
acionar o poder público para obter uma justa indenização pelo
acidente. No extenso intervalo
de tempo que vai das primeiras
reclamações da vizinhança até
uma eventual reparação judicial
pelo acidente, é o mesmo fenômeno que se revela, aqui, em sua
face mais sinistra: um Estado
inacessível aos cidadãos, fechado
num circuito indevassável de burocracia, incompetência, desleixo ou corrupção.
Coisas que, no dia a dia, todo
brasileiro conhece, mas que literalmente adquirem, a cada tragédia, modalidades assassinas.
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