São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Crimes de Estado

DOIS MORTOS, 15 feridos, quatro casas destruídas, outras 30 evacuadas. Este o saldo da explosão de uma loja que vendia fogos de artifício em Santo André, município da Grande São Paulo.
Segundo avaliações iniciais dos peritos, dificilmente uma explosão de tais dimensões poderia acontecer num estabelecimento que tivesse apenas fogos de artifício em seu estoque. Suspeita-se que a matéria-prima para sua fabricação era guardada ali.
Em 2002, o dono da loja fora preso, no mesmo local, por posse ilegal de explosivos. O perigo potencial do estabelecimento não era segredo na vizinhança. O que mais causa revolta, num acontecimento como esse, é o fato de que as reclamações dos cidadãos não encontrem, por parte do poder público, canais eficientes e rápidos de encaminhamento.
Polícia e Ministério Público vão debruçar-se sobre o emaranhado burocrático que cerca o acidente: há um espantoso auto de vistoria do Corpo de Bombeiros, atestando a segurança do local. A venda de fogos de artifício, mas não sua produção, estava autorizada pela Polícia Civil. Não havia sido concedido, entretanto, o alvará da prefeitura para que a loja funcionasse.
Pode-se imaginar que tipo de dificuldades e delongas encontrarão aqueles que quiserem acionar o poder público para obter uma justa indenização pelo acidente. No extenso intervalo de tempo que vai das primeiras reclamações da vizinhança até uma eventual reparação judicial pelo acidente, é o mesmo fenômeno que se revela, aqui, em sua face mais sinistra: um Estado inacessível aos cidadãos, fechado num circuito indevassável de burocracia, incompetência, desleixo ou corrupção.
Coisas que, no dia a dia, todo brasileiro conhece, mas que literalmente adquirem, a cada tragédia, modalidades assassinas.


Texto Anterior: Editoriais: O papel do Senado
Próximo Texto: Pittsburgh - Clóvis Rossi: Imperdoáveis incoerências
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.