São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

O caminho da paz social

"O momento atual abre perspectivas promissoras para o Brasil, fruto das muitas propostas nascidas no decorrer do período eleitoral." Com essas palavras, a Comissão da CNBB encarregada de coordenar o "Mutirão para a Superação da Miséria e da Fome" dirige apelo aos governantes, especialmente aos novos eleitos, para que enfrentem, com prioridade, o drama da fome, assegurando que o "alimento, dom de Deus e direito de todos", chegue a todas as mesas.
O breve texto, elaborado pela Comissão Episcopal, em 22 de outubro, reafirma a iniciativa da CNBB, que, em sua última Assembléia Geral, em abril de 2002, diante das desigualdades econômicas e sociais que afligem nosso povo, convocou as comunidades cristãs para o exercício concreto da cidadania e da caridade fraterna.
O documento "Exigências evangélicas e éticas da superação da miséria e da fome" (doc. 69) foi aprovado por unanimidade pelos membros da CNBB e nesses meses tornou-se tema de estudo e programa de ação em todas as dioceses. A iniciativa da CNBB foi acolhida e referendada por grande número de entidades que partilham do mesmo objetivo e estiveram reunidas em Brasília nos dias 22 e 23 de julho de 2002. Elaboraram em conjunto uma declaração aos candidatos a postos eletivos, executivos e legislativos, propondo a mobilização da sociedade civil brasileira em torno do mutirão contra a miséria e a fome.
Hoje, na conclusão do período eleitoral, agradecemos a Deus a campanha ter-se realizado em clima democrático e de paz social, revelando um notável amadurecimento na participação política do nosso povo.
É a hora de unir forças para colocar em sintonia o nosso patriotismo e intensificar o empenho na construção de um Brasil solidário e fraterno. Para alcançar essa meta, é preciso que todos cooperem, apoiando projetos concretos em bem do povo. Essa atitude ajuda a superar partidarismos e ressentimentos e a somar esforços na promoção e na defesa de condições dignas de vida.
Foi nesse sentido que a Comissão da CNBB enviou carta aberta aos governantes, renovando o apelo para que, nas esferas federal, estadual e municipal, assumam com prioridade o compromisso de garantir o direito à alimentação, com especial atenção às crianças gravemente afetadas no seu desenvolvimento. Esse esforço, oferecendo a oportunidade de uma ação conjunta, há de irmanar as forças vivas da sociedade civil e pode assegurar, a curto prazo, melhores condições de nutrição para nosso povo. O exercício da cidadania se estenderá, quanto antes, a outras iniciativas indispensáveis para atender as exigências de teto, terra, água, trabalho, educação e saúde.
A liberdade do processo eleitoral é básica para o exercício da democracia. Deve, no entanto, ser cada vez mais aperfeiçoada pela participação dos cidadãos em projetos comuns de políticas públicas.
É na colaboração cotidiana, vencendo distâncias e unindo forças, que há de crescer a solidariedade que leva à partilha fraterna e, portanto, à diminuição progressiva das desigualdades sociais.
Após as vicissitudes das campanhas eleitorais, é chegado o momento de darmos as mãos. Membros das comunidades cristãs, denominações religiosas, organizações da sociedade civil e governos precisamos, com o auxílio de Deus, trabalhar unidos em bem do povo. Comecemos pela superação da miséria e da fome, como primeira etapa no caminho da concórdia e da paz social.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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