São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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DISPUTA ACIRRADA

"Necessitamos de um presidente que peça a vocês que se unam para votar não por seus medos, mas por suas esperanças". Essa frase, que poderia muito bem ter sido proferida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha de 2002, foi dita pelo candidato democrata à Presidência dos EUA, senador John Kerry.
Em comum, ambos têm ou tiveram o fato de ser candidatos de oposição enfrentando um oponente que lhes imputa ou imputava a acusação de incapacidade para lidar com adversidades. No caso brasileiro, Lula era acusado de ser incapaz de enfrentar os problemas econômicos. A crer no discurso republicano, com Kerry na Casa Branca os norte-americanos não estarão seguros contra as ameaças do terrorismo.
Trata-se, é óbvio, de uma estratégia esquemática de marketing político. No caso brasileiro, o PT soube desarmá-la, oferecendo, aliás, uma contrapartida publicitária mais bem-sucedida. No caso dos EUA, os dados ainda estão em movimento.
Ao que tudo indica, parte das chances de êxito de Kerry reside na capacidade que irá demonstrar nesta reta final de convencer os indecisos de que o país estará protegido em suas mãos e que há outros temas relevantes para os norte-americanos, além da segurança. Já para Bush, trata-se de insistir na tecla de que o candidato democrata não está tão preparado quanto ele para defender o país.
É difícil convencer a maioria dos norte-americanos de que a política preventiva e unilateral de Bush induz a erros, como a invasão do Iraque, e pode aumentar em vez de reduzir a insegurança. Essa conclusão exigiria que o eleitor levasse em conta não apenas o quadro interno, que se mantém controlado, mas sobretudo uma avaliação mais racional e sofisticada do cenário externo.
É difícil esperar isso de uma opinião pública atemorizada, como a norte-americana. Mais ainda quando o homem que está no comando -e que reagiu sem hesitações à agressão do 11 de Setembro- investe no medo como estratégia eleitoral.


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