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CLÓVIS ROSSI
John Kerry da Silva
SÃO PAULO - Desconfio que a história de que Duda Mendonça foi preso
em uma rinha de galo é falsa. Serviu
apenas para encobrir uma viagem
secreta dele aos Estados Unidos, mais
exatamente para Pueblo (Colorado),
para dar uma assessoria a John
Kerry, o candidato democrata.
Fantasia? Então leia a coluna "On
the trail" ("Na Trilha", no caso da
campanha eleitoral) do jornal "The
New York Times". Está lá o novo discurso de Kerry:
"Necessitamos de um presidente
que peça a vocês que se unam para
votar não pelos seus medos, mas por
suas esperanças".
O mundo -ou, pelo menos os Estados Unidos- curva-se de novo diante do gênio brasileiro. John Kerry da
Silva está cantando a esperança contra o medo.
Agora só falta Arnold Schwarzenegger bancar uma Regina Duarte
norte-americana e aparecer na TV
para dizer que está com medo. Tudo
bem que há uma certa diferença física entre os dois, mas, para os marqueteiros, nada é impossível.
Não sei se o discurso da esperança
vai colar. Mas é óbvio que ele é extremamente adequado: o governo George W. Bush foi, desde o 11 de Setembro, um grito contínuo de "olha o lobo, olha o lobo".
O diabo é que o lobo havia de fato
aparecido no 11 de Setembro, o que
mudou profundamente a cabeça da
América. Instalou-se o medo e para
ele só há um antídoto, de acordo com
Bush: ele próprio, claro.
Kerry, ao propor o voto com a esperança, não com o medo, parece apostar em uma das características mais
essenciais, mais constitutivas, do norte-americano, que é um olhar sempre
confiante para o futuro.
"Olhem para 2005, não para 11 de
setembro de 2001", parece dizer.
Talvez dê certo, ainda mais que os
eleitores dos EUA certamente não estão informados de que, no Brasil, o
medo no fim das contas acabou vencendo a esperança -não na eleição,
mas depois dela.
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