São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

John Kerry da Silva

SÃO PAULO - Desconfio que a história de que Duda Mendonça foi preso em uma rinha de galo é falsa. Serviu apenas para encobrir uma viagem secreta dele aos Estados Unidos, mais exatamente para Pueblo (Colorado), para dar uma assessoria a John Kerry, o candidato democrata.
Fantasia? Então leia a coluna "On the trail" ("Na Trilha", no caso da campanha eleitoral) do jornal "The New York Times". Está lá o novo discurso de Kerry:
"Necessitamos de um presidente que peça a vocês que se unam para votar não pelos seus medos, mas por suas esperanças".
O mundo -ou, pelo menos os Estados Unidos- curva-se de novo diante do gênio brasileiro. John Kerry da Silva está cantando a esperança contra o medo.
Agora só falta Arnold Schwarzenegger bancar uma Regina Duarte norte-americana e aparecer na TV para dizer que está com medo. Tudo bem que há uma certa diferença física entre os dois, mas, para os marqueteiros, nada é impossível.
Não sei se o discurso da esperança vai colar. Mas é óbvio que ele é extremamente adequado: o governo George W. Bush foi, desde o 11 de Setembro, um grito contínuo de "olha o lobo, olha o lobo".
O diabo é que o lobo havia de fato aparecido no 11 de Setembro, o que mudou profundamente a cabeça da América. Instalou-se o medo e para ele só há um antídoto, de acordo com Bush: ele próprio, claro.
Kerry, ao propor o voto com a esperança, não com o medo, parece apostar em uma das características mais essenciais, mais constitutivas, do norte-americano, que é um olhar sempre confiante para o futuro.
"Olhem para 2005, não para 11 de setembro de 2001", parece dizer.
Talvez dê certo, ainda mais que os eleitores dos EUA certamente não estão informados de que, no Brasil, o medo no fim das contas acabou vencendo a esperança -não na eleição, mas depois dela.


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