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CLÓVIS ROSSI
"Golpismo", falso e verdadeiro
SÃO PAULO - É emblemática, do
ponto de vista do baixo respeito às
regras no Brasil, a aceitação da tese
de "golpismo", esgrimida pelo PT
em relação à investigação do escândalo do dossiê, em curso no TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
"Golpismo" seria o inverso, ou seja, aceitar a idéia de que algumas
pessoas (no caso, o presidente da
República) estão acima da lei. Louve-se, a propósito, o presidente Lula, que, na sabatina com a Folha,
não encampou a tese do "golpismo"
ao dizer que, se crime houve, ele
tem de pagar.
Prosseguir na investigação e fazê-la com rigor, seja qual for o resultado de domingo, é a única chance de o Brasil demonstrar que não é
uma republiqueta, ao contrário do
que indica a catarata de escândalos
sem punições que escorre dos cumes do poder desde tempos imemoriais e que o lulo-petismo manteve nas alturas.
Que a decisão do TSE será política não há a menor dúvida. Sempre é
assim em casos que envolvem a disputa política, com perdão pela obviedade, infelizmente necessária
em um país em que até o óbvio é
objeto de caixa dois.
Posso até apostar que a decisão
do TSE será favorável a Lula, mesmo que se comprove que o dinheiro
para a operação dossiê saiu do comitê de campanha, do PT ou até de
empresas públicas. Nesse caso, a lei
eleitoral determina a impugnação
da candidatura.
Mas o TSE não pode desconhecer um argumento, que não é juridicamente perfeito, mas é factualmente correto: a vitória de Lula não
será devida ao caso do dossiê. Portanto, impugnar a candidatura seria desconhecer a vontade do eleitorado, manifestada mesmo depois
de dada toda a devida e necessária
divulgação ao escândalo.
Não é argumento juridicamente
válido, porque as urnas só registram o voto, não o motivo dele.
Mas é bom senso, sem "golpismo" de um lado ou do outro.
crossi@uol.com.br
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