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RUBENS VALENTE
A lei Delúbio
NAS TRATATIVAS para o lançamento da candidatura de
Lula à Presidência em
2002, uma prioridade dos dirigentes do PT era assegurar ao candidato, escaldado por três derrotas consecutivas, que a campanha seria rica. Para alavancar as doações, José
Dirceu contaria com o fiel aliado
Delúbio Soares, a quem havia tirado, em 1995, do ostracismo em que
se encontrava, e com uma rede de
arrecadadores de confiança nos
Estados, como Waldomiro Diniz.
Acalmado o candidato, o partido
fez e aconteceu. Delúbio recorreu
ao publicitário Marcos Valério,
com vasto serviço prestado ao
PSDB. Todo mundo sabe o final da
história. Lula queria ao menos um
"bom" marqueteiro (que recebeu
R$ 25 milhões por um pacote de
quatro campanhas) e um jatinho.
Gastou R$ 33,7 milhões no caixa
oficial, dez vezes mais do que a
campanha anterior. Há relação direta entre dinheiro e vitória, daí a
necessidade de conhecer métodos,
operadores e apoiadores.
Nos últimos anos, o Brasil avançou na transparência, mas o Tribunal Superior Eleitoral tem ainda
muito o que fazer. A principal nódoa é o sigilo sobre o doador durante a campanha. Hoje, a divulgação
ocorre só depois da disputa.
Em 2004, o PT discutiu a hipótese de revelar os doadores durante o
pleito. Delúbio, contrário à idéia,
teria dito, segundo parte da imprensa, que "transparência demais
é burrice". Saiu vencedor.
Dois anos depois, a lei 11.300,
nascida de projeto do senador Jorge Bornhausen (DEM-SC) e sancionada por Lula, criou regra semelhante ao ideal de Delúbio. O
candidato deve revelar apenas valores na campanha, sem nomes.
Medida inútil, até debochada.
Hoje acaba a segunda eleição sob
a nova lei, e você, eleitor, vota sem
saber quem pagou o helicóptero, o
marqueteiro, o panfleto. A Folha e
outros meios de comunicação
questionaram os candidatos à Prefeitura de SP. Gilberto Kassab,
Marta Suplicy e Geraldo Alckmin
desconversaram. Enroladores,
atribuíram à lei a opacidade que é
deles, pois nada os impede de falar.
Em seminário sobre financiamento ocorrido em maio passado
em Assunção, um editor do jornal
"ABC Color" disse ter perguntado
ao general Lino Oviedo quem pagava a sua campanha. Oviedo se
disse surpreso, pois, para ele, "todo
mundo" no Paraguai sabia quem
eram seus doadores. Como prova,
chamou seu motorista e fez a mesma pergunta. Ele respondeu: "Ora,
quem paga as contas da campanha
são os amigos do general".
A lei em vigor no Brasil só interessa aos partidos e candidatos.
Então não interessa à sociedade.
Alegam que a transparência afugenta doadores. Mas pouco importa para o eleitorado que a arrecadação desabe. Isso não é problema do
eleitor, é problema do candidato,
que aceitou o ônus e o bônus da vida pública. Ele tem de explicar
quem são seus amigos do bolso.
RUBENS VALENTE é repórter de Brasil .
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