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CLÓVIS ROSSI
Férias, as últimas?
SÃO PAULO - Saio hoje de férias
(até o começo de dezembro) com a
sensação que deve sentir o mico-leão-dourado: a de uma espécie em
vias de extinção.
Um estudioso norte-americano,
que já citei neste espaço, chegou a
pôr até a data do fim na lápide do
jornalismo impresso (2040, salvo
erro de memória).
A coisa é tão feia que a revista
francesa "Marianne" está propondo a criação de uma comissão, formada por personalidades independentes, com a única tarefa de lançar
"uma grande campanha nacional
pela independência da imprensa",
como diz Maurice Szafran, diretor
da revista.
A idéia é reunir até 40 milhões
(cerca de R$ 112 milhões), a serem
redistribuídos a jornais em dificuldades.
Recorrer à sociedade é uma idéia
bem melhor e mais sadia do que a
do governo petista de dar dinheiro
público para publicações "amigas",
ou seja, para o popular jornalismo
chapa-branca.
Ainda assim, e mesmo que o público francês compre o "bolsa-mídia", não vai resolver o problema,
O jornalismo impresso vive uma
crise que é, sim, financeira, mas é
acima de tudo uma crise de destino.
Explícita ou implicitamente, vivemos sob a cultura do lema do "New
York Times", qual seja, publicar "all
the news that is fit to print". Hoje
em dia, todas as notícias que estão
prontas para publicação aparecem
antes que os jornais comecem a rodar -ou na TV, ou na internet, ou
no rádio.
Logo, a rigor, não há mais notícias "fit to print" que sobrevivam
até o dia seguinte, quando os jornais começam a circular. É claro
que sempre sobra alguma rebarba
de informação exclusiva, mas é
pouco para uma indústria tão cara.
O jornalismo impresso precisa
reinventar seu destino. Eu tenho
até alguns palpites, mas, como não
passam disso, o melhor é tirar férias. Na volta conversamos.
crossi@uol.com.br
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