São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A PUC-SP e o ensino superior no Brasil

MAURA VÉRAS


A crise, que já superamos, deixou lições. Temos certeza de que o enfrentamento das dificuldades recentes nos fez ainda mais fortes


UNIVERSIDADES são instituições relativamente novas no Brasil. As mais velhas, de caráter público e estatal, completaram sete décadas. As católicas mais antigas, entre elas a PUC-SP, foram fundadas no último pós-guerra.
No Brasil como um todo, até a década de 1960, o sistema público tinha maior participação no número de matrículas, em torno de 55%. A partir de então, houve uma acentuada inversão, com o crescimento do sistema privado, que atingiu pouco mais de 60% das matrículas no início da década seguinte. Essa proporção permaneceu estável até 1995, quando teve início uma nova escalada que levou as matrículas em instituições privadas ao patamar de 72% em 2004.
Em números absolutos, entre 1970 e 2004, enquanto a população brasileira crescia 100%, passando de 90 milhões para 180 milhões, o número de estudantes universitários aumentava em mais de 900%.
A essa evolução correspondeu uma mudança de qualidade: o sistema privado ganhou terreno na base, com recursos humanos e regime de trabalho voltados ao ensino e, sobretudo, com contratos de hora/aula, e o sistema público, desde a década de 60, avançou em pesquisa e pós-graduação, forçando o aumento da qualificação de seu corpo docente, o que significou maior valorização de seus diplomas.
No início, a visão que se tinha dos títulos de mestrado e doutorado é que interessavam aos destinados à carreira acadêmica. Mas, com a expansão da pós-graduação, as figuras do mestre e do doutor orientados para o mercado se tornaram rotineiras. A grande aceleração na procura de níveis mais elevados de formação, embora concentrada no Sudeste, produziu efeitos em todo o Brasil.
A PUC-SP é uma das poucas instituições particulares no Brasil que desmente essa dualidade de características separando as universidades públicas das privadas. E isso se deve ao fato de ter-se lançado de forma incisiva no universo da pesquisa e de ter estabelecido uma sólida carreira docente. Foi isso que permitiu importante passagem.
Fundada em 1946, erigida a pontifícia em 1947, expandiu-se em cursos de graduação respeitados que hoje se somam a 46 habilitações. Seu compromisso com a inclusão lhe exige a oferta de programas sociais de bolsas de estudo e serviços à comunidade para mais de 25% de seus estudantes.
Seu corpo docente é qualificado, mais de 80% são mestres e doutores. Até o início da década de 1970, era uma universidade de ensino -e de grande reputação no Estado de São Paulo. Quando passou a atuar nos níveis superiores, começou a travar relações interuniversitárias e a receber estudantes de todo o Brasil e estrangeiros, caminhando para a internacionalização. Bem avaliados pelas agências federais, nossos programas de estudos pós-graduados (26 mestrados e 16 doutorados) propagaram suas orientações por meio de mestres e doutores aqui titulados que retornavam aos seus lugares de origem para o exercício de funções acadêmicas.
Nossa pós-graduação se consolidou em três grandes áreas do conhecimento: ciências humanas, ciências sociais aplicadas e lingüística, letras e artes. Formamos a cada ano cerca de 1.200 mestres e doutores, o que corresponde, nessas áreas, a 23% das titulações acadêmicas no Estado.
Nossos docentes dispõem de um contrato de trabalho por tempo integral ou parcial, em que há possibilidade de exercerem atividades como pesquisa, orientação e estudos complementares. Com mais de 17 mil alunos na graduação, 5.000 na pós-graduação e 12 mil na educação continuada, mantemos a proporção de um professor para 11 alunos, índice que revela sua qualidade acadêmica.
Esses dados demonstram a existência de uma terceira alternativa no âmbito da educação superior no Brasil. O modelo da grande universidade de ensino, pesquisa e extensão, com vigorosa atuação em graduação, mestrado e doutorado, é viável também em instituições não estatais. O exemplo da PUC-SP confirma essa tese.
Fiel ao seu compromisso social, ela sempre se definiu com o espírito público, comunitário, filantrópico.
Desde o final de 2005, a PUC-SP foi objeto de várias matérias na imprensa paulista sobre a crise de sustentabilidade por que passamos. A crise, que já conseguimos superar, nos deixou a lição de que a riqueza da PUC-SP está em seu modelo, e é sua preservação que nos dará a credibilidade para mais um ciclo de protagonismo na educação superior no Brasil.
Contrariamente a avaliações apressadas, o ajuste a que procedemos garantiu o essencial: ensino, pesquisa e extensão de grande qualidade, formação continuada do corpo docente, política de bolsas propiciando inclusão, democracia da gestão e dos processos.
Temos certeza de que o enfrentamento corajoso das dificuldades recentes nos fez ainda mais fortes.

MAURA PARDINI BICUDO VÉRAS , 64, doutora e livre- docente em ciências sociais pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é reitora da PUC-SP.


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