São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006 |
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Em defesa do Incor
PAULO MALUF
O INCOR é um patrimônio de todos nós. Do Brasil e dos brasileiros, pois é o único hospital deste país que é referência internacional em sua especialidade. É um pedaço do Brasil que deu certo. Sua produção científica, no campo da pesquisa e na aplicação de novas técnicas desenvolvidas aqui e no exterior, tem reputação reconhecida em todos os países. Atende democraticamente pacientes de todo o território nacional. É uma verdadeira usina para salvar e prolongar vidas. O Incor começou a ser planejado e teve iniciada a sua construção no governo Abreu Sodré. Continuou nos governos Laudo Natel e Paulo Egydio Martins. O hospital foi concluído, equipado e posto em funcionamento na administração Paulo Maluf. Tive o privilégio de ter o eminente prof. Adib Jatene como secretário da Saúde. Quando fui governador, o professor Euryclides de Jesus Zerbini me disse que o hospital precisava de US$ 17 milhões para ser equipado de acordo com os padrões internacionais. Disse-lhe que o dinheiro para o investimento estava disponível por meio da Secretaria do Planejamento. Perguntei-lhe, depois, como o hospital seria mantido. O prof. Zerbini me disse que isso seria feito com verbas do Estado, por meio da Secretaria da Fazenda. Sugeri que isso seria suplementar. Para administrar o hospital e pagar melhor seus funcionários, teria de ser organizada uma fundação. Assim, os ricos pagariam e os planos de saúde dariam receita para a fundação. E os carentes teriam atendimento gratuito. E foi implantada verdadeira justiça social na medicina. Foi implantada, pois, a Fundação Zerbini. Constituída, transformou-se em suporte financeiro, ampliando o número de atendimentos do hospital e sua produção científica e pagando a seus médicos e funcionários salários compatíveis com a qualidade profissional superior de cada um. Sugeri também, na mesma ocasião, que idêntico procedimento fosse adotado pelo Hospital das Clínicas, o que foi recusado pelos médicos do HC sob a argumentação de que o atendimento à saúde deveria ser universal e gratuito. O conceito é equivocado. Médicos, assistentes, enfermeiros e funcionários devem ter salários justos. E isso sempre deve ser pago. Ou pelos impostos, ou pelos planos de saúde, ou pelo paciente. Nada é gratuito. Em 1998, o ilustre governador Mário Covas determinou que a própria Fundação Zerbini pagasse a construção do Incor 2, a ser erguido em terreno do Estado. A medida correta seria que o Estado pagasse a obra erguida em seu terreno, com verba a fundo perdido, cabendo à fundação, posteriormente, administrar as novas instalações, segundo o modelo até então usado com completo êxito no Incor. Frente à decisão do ilustre governador, a Fundação Zerbini fez, ela mesma, os empréstimos destinados ao empreendimento por meio de financiamento do BNDES e de bancos privados, contraindo dívida que não era sua. Isso obrigou que fossem feitos sucessivos refinanciamentos do total devido, sempre em nome da fundação, por meio de instituições financeiras, a juro de mercado. Daí o desastre a que estamos assistindo. Não por culpa da própria fundação, que foi constituída não para construir hospitais, mas para administrá-los com eficiência e competência, o que tem acontecido por mais de 25 anos. Acho injusto, por isso, atribuir à Fundação Zerbini o ônus de regularizar a situação financeira da instituição. O Incor não pertence à Fundação Zerbini. Pertence ao Estado. O Incor é de todos nós, com seus 600 leitos, 13 mil internações por ano, mais de 1 milhão de análises clínicas e o perfeito aproveitamento por seus pacientes de um quadro clínico superior e de um suporte técnico e pessoal que nada deve aos maiores hospitais dos Estados Unidos e da Europa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou publicamente a sua determinação em ver o problema solucionado. Ele mesmo, por meio de atendimento pessoal, sabe da excepcional qualificação do Incor. Cabe ao governo federal e, em especial, ao governo de São Paulo resolver o problema que a Fundação Zerbini não criou, mas foi obrigada a engolir. A única solução será os governos federal e estadual assumirem, por meio dos seus Orçamentos, a fundo perdido, a dívida da fundação, eis que o Incor 2 foi construído em terreno do Estado -e, portanto, a ele pertence. A falta de consciência cívica e pública dos atuais governantes será um crime de lesa-pátria. PAULO MALUF , 75, engenheiro, é deputado federal eleito pelo PP. Foi governador de São Paulo (1979-1982) e prefeito da cidade de São Paulo (1969-1971, 1993-1996). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Maura Vêras: A PUC-SP e o ensino superior no Brasil Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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