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FERNANDO DE BARROS E SILVA
ABC da miséria nacional
SÃO PAULO - "Sabemos falar
muito bem a nossa língua (...). Queremos brasileiros melhor educados
(sic), e não brasileiros liderados por
gente que despreza a educação, a
começar pela própria." O que foi isso? Um acesso de esnobismo? Uma
manobra diversionista para desviar
o foco do mensalão tucano? Inveja e
despeito? Um pouco de tudo, mas
antes de mais nada Fernando Henrique Cardoso foi vulgar e mesquinho ao açular nesses termos o velho
preconceito de classe que ele um
dia já combateu.
Que o professor emérito e de carreira internacional tenha tropeçado no idioma nativo justamente
quando zombava do metalúrgico
pouco letrado é um detalhe cômico
que só torna o episódio mais grotesco. O essencial não está, obviamente, no maltrato da língua, o que nem
é novidade. O sociólogo um dia já
manobrou muito bem as idéias,
mas nunca foi um estilista. Seu texto é sofrível. Também nisso é legítimo representante da elite local.
Os tucanos falam muitas línguas,
são gente que trabalha e estuda, que
estuda e trabalha, disse o príncipe.
Pois os estudiosos deveriam ler as
90 páginas da denúncia do procurador-geral Antonio Fernando Souza
sobre o valerioduto do PSDB. Está
em português, claro e cristalino.
Ali o esquema de rapinagem dos
cofres públicos a serviço de Eduardo Azeredo em 1998 é descrito como "origem e laboratório" do mensalão petista. A diferença entre a
farra mineira e a que se deu sob Lula seria de escala. Não é uma gincana muito edificante.
"Estamos aprendendo com a Era
Fernandina como de fato ficou brutalmente estúpido ser inteligente",
escreveu no caderno Mais!, ainda
em 2001, o filósofo Paulo Arantes.
O "apagão" da inteligência progressista desde então só avançou. E já
ficou claro a essa altura que tal breu
está relacionado à falta de perspectiva decente para o país. Ou, como
disse João Moreira Salles em entrevista à Folha, "nossas ambições se
tornaram mais medíocres". É um
moço bem-educado. E ele FHC conhece muito bem.
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