|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
É bom, não foi?
SÃO PAULO- Anos atrás, em um
seminário em Caracas, Moisés
Naim, venezuelano radicado em
Washington, editor da revista "Foreign Policy", observou que uma
das grandes características do
mundo moderno era a "aceleração
dos tempos". Quase tudo parece andar mais depressa, quase nada dura
tanto quanto durava antes -ou parecia durar antes.
De fato, a vida moderna é tão acelerada que até o ano, que continua
durando 365 dias, parece ser mais
curto. Mas o que definitivamente
encurtou é a duração da fama.
Poderia citar vários exemplos,
mas o que mais me impressiona é o
caso de Ronaldinho Gaúcho, talvez
por ser torcedor fanático do Barcelona e ficar perplexo com o fato de
que o declínio do jogador é primo-irmão dos fracassos recentes do
clube. Paixão à parte, o que dá relevância ao caso Ronaldinho, pelo
menos do meu ponto de vista, é a
análise que dele fazia Tostão, um
dos raros comentaristas de futebol
avaro em tascar o rótulo de craque
em alguém.
Quando, há dois anos, Ronaldinho abusava do talento, Tostão derreteu-se em elogios a ele. Chegou a
colocá-lo perto do pedestal em que
se encontra Pelé. É, pois, inacreditável que, nesses dois anos, Ronaldinho tenha passado dos aplausos
dos inimigos (os do Real Madrid),
após derrotá-los em seu próprio
campo, às vaias dos torcedores do
seu time, após perder domingo em
casa para o Madrid.
Ousaria dizer que a Copa do
Mundo da Alemanha roubou a magia. E não só dele: Ronaldo desapareceu de vez; Adriano tenta ressuscitar no São Paulo; Robinho penou
um tempão até voltar a ser estrela
no Real Madrid.
Pelé, Maradona, Zico, Didi, até
Garrincha, sobreviveram mais tempo sob aplausos.
Não deixa de ser um aviso para
astros de outros espetáculos -política inclusive. Se a vida é curta, a fama é mais.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Cautelas com a inflação Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: Bons sinais Índice
|