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RUY CASTRO
Notícias do dia 24
RIO DE JANEIRO - Como todo
mundo de imprensa na minha geração, peguei o tempo em que nenhum jornal saía nos dias 25 de dezembro e 1º de janeiro. A idéia era a
de que os jornalistas precisavam
descansar e os leitores, também.
O que não quer dizer que os fatos
não continuassem acontecendo.
Mas havia nas Redações uma sensação de que, na véspera de Natal ou
na última noite do ano, nada era importante para justificar plantões ou
edições extras. No Rio, pelo menos,
nenhum Papai Noel ficaria entalado na chaminé, o réveillon de Copacabana ainda era um privilégio de
milhares, não milhões, e a única dúvida era se iria ou não dar praia no
dia seguinte.
O que de bom ou ruim que rolasse
no dia 24, os jornais só publicariam
no dia 26. Mas, a provar que o 24 de
dezembro nunca foi desprezível em
matéria de notícia, eis algumas
amostras do que já aconteceu nele.
Nesse dia, em 1851, a biblioteca
do Congresso dos EUA, em Washington, queimou inteira (e, claro,
foi integralmente refeita). Em outro 24 de dezembro, só que de 1865,
quem também botou as primeiras
tochas para arder foi a Ku Klux
Klan, no Tennessee. E, nessa mesma data, em 1888, em Arles, França,
o trágico Van Gogh pegou a navalha
e, num surto, tirou um bife de sua
própria orelha esquerda.
Também no dia 24 de dezembro,
em 1907, o pessoal da Ópera de Paris lacrou duas urnas com 24 discos
de astros como Caruso, cantando
de Bizet a Rossini, e guardou-as para que, abertas dali a cem anos, em
2007, se ouvisse a "música da época". O prazo foi dado por vencido no
outro dia e elas vieram à luz. Mas
deu-se um senão. Não nos discos,
porque o equipamento para tocá-los é sopa. O problema está nas urnas. Foram envoltas com cintas de
amianto, material altamente cancerígeno. O homem conseguiu botar a
morte entre ele e a música.
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