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RUY CASTRO
Vida de fantasia
RIO DE JANEIRO - Em criança,
nos anos 50, alimentei fantasias.
Uma delas, morar na fábrica da Kibon. A ideia de ter estoques de Jajá
e Chica Bon de graça e à mão o dia
todo, sem depender da carrocinha
amarela, era quase insuportável de
tão boa. Outra, a de morar na famosa Ebal, em São Cristóvão. Era a
maior editora de quadrinhos do
mundo fora dos EUA. Dali saíam
"Mindinho", "Super-Homem",
"Batman", "Pinduca", "Reis do Faroeste", "Álbum Gigante", "Misterinho" e todos os gibis que um garoto
sério não podia deixar de ler.
E havia quem sonhasse com o estúdio de Walt Disney. Não com um
parque de diversões, como a Disneylândia, que ainda não existia, e
muito menos a Disney World, mas
com o estúdio mesmo, onde nasciam os grandes personagens, de
Pateta ao Zé Carioca e à Maga Patalójika. Bem, um sujeito chamado
Roy Disney realizou essa fantasia.
É verdade que ele era sobrinho de
Walt e filho de Roy Sr., o irmão encarregado de podar os delírios de
Walt alegando que não havia dinheiro. O fato é que Roy Jr., nascido
em 1930, teve o estúdio como seu
playground e presenciou tudo que
aconteceu ali: "Branca de Neve",
"Pinóquio", "Cinderela", "Bambi",
"Peter Pan".
Era o primeiro menino do planeta a conhecer os desenhos que seriam a paixão de milhões. Às vezes,
era até chamado para aprová-los,
isto quando não o convocavam para
servir de modelo para certos movimentos e posições. Pois nem assim
Roy Jr. foi feliz: o estúdio era um
atroz arranca-rabo entre seu tio e
seu pai e, quando ambos morreram,
os acionistas se apossaram.
Ele próprio se afastou da empresa em 1977 e só voltou muito depois,
como último representante do nome Disney. Morreu outro dia, aos
79 anos, certo de que a vida nas corporações está mais para o João Bafodeonça do que para o Pluto.
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