São Paulo, sábado, 26 de dezembro de 2009

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RUY CASTRO

Vida de fantasia

RIO DE JANEIRO - Em criança, nos anos 50, alimentei fantasias. Uma delas, morar na fábrica da Kibon. A ideia de ter estoques de Jajá e Chica Bon de graça e à mão o dia todo, sem depender da carrocinha amarela, era quase insuportável de tão boa. Outra, a de morar na famosa Ebal, em São Cristóvão. Era a maior editora de quadrinhos do mundo fora dos EUA. Dali saíam "Mindinho", "Super-Homem", "Batman", "Pinduca", "Reis do Faroeste", "Álbum Gigante", "Misterinho" e todos os gibis que um garoto sério não podia deixar de ler.
E havia quem sonhasse com o estúdio de Walt Disney. Não com um parque de diversões, como a Disneylândia, que ainda não existia, e muito menos a Disney World, mas com o estúdio mesmo, onde nasciam os grandes personagens, de Pateta ao Zé Carioca e à Maga Patalójika. Bem, um sujeito chamado Roy Disney realizou essa fantasia.
É verdade que ele era sobrinho de Walt e filho de Roy Sr., o irmão encarregado de podar os delírios de Walt alegando que não havia dinheiro. O fato é que Roy Jr., nascido em 1930, teve o estúdio como seu playground e presenciou tudo que aconteceu ali: "Branca de Neve", "Pinóquio", "Cinderela", "Bambi", "Peter Pan".
Era o primeiro menino do planeta a conhecer os desenhos que seriam a paixão de milhões. Às vezes, era até chamado para aprová-los, isto quando não o convocavam para servir de modelo para certos movimentos e posições. Pois nem assim Roy Jr. foi feliz: o estúdio era um atroz arranca-rabo entre seu tio e seu pai e, quando ambos morreram, os acionistas se apossaram.
Ele próprio se afastou da empresa em 1977 e só voltou muito depois, como último representante do nome Disney. Morreu outro dia, aos 79 anos, certo de que a vida nas corporações está mais para o João Bafodeonça do que para o Pluto.


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