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ANTÔNIO GOIS
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RIO DE JANEIRO - No Brasil, a
prioridade à educação raramente
ultrapassa a barreira do discurso.
Foi num discurso que o presidente Lula disse, em 2003, ao lançar o
programa Brasil Alfabetizado, que o
desafio de erradicar o analfabetismo era "muito menos de dinheiro"
e "muito mais de disposição política". Quatro anos depois, o MEC, ao
constatar os pífios resultados do
programa, decidiu reformulá-lo.
A erradicação do analfabetismo
em quatro anos era a meta mais ambiciosa de Lula na educação. Para
isso, o governo prometeu alfabetizar 20 milhões de brasileiros. Até
2005, no entanto, a Pnad, do IBGE,
indicava que a redução no número
de analfabetos em três anos foi de
apenas 213 mil. Dá 1% da meta.
Se o país, para além do discurso,
levasse educação a sério, o ministro
da Educação seria cobrado diariamente por esse fracasso.
O presidente Lula pediria desculpas e admitiria, ao seu estilo, que
nunca na história do país prometeu-se tanto e atingiu-se tão pouco.
A oposição cobraria explicações,
mas reconheceria que, enquanto foi
governo, também fracassou.
Os jornais dariam a esse e a outros temas da educação, quem sabe,
ao menos 10% do espaço dado à disputa pela presidência da Câmara.
Temos hoje o desafio de educar
todas as crianças com qualidade,
mas continuamos em dívida com o
passado, evidenciada por 14,6 milhões de analfabetos adultos.
Nesta semana, o governo anunciou um programa para acelerar o
crescimento, que recebeu merecida
atenção de toda a sociedade.
Citamos sempre Coréia do Sul e
Irlanda como exemplos. São países
que crescem, distribuem renda e
dão emprego aos jovens em fábricas
de tecnologia de ponta. Para isso,
romperam a barreira do discurso e
investiram em educação. Acelerar o
crescimento passa por aí.
agois@folhasp.com.br
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