São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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ANTÔNIO GOIS

1%

RIO DE JANEIRO - No Brasil, a prioridade à educação raramente ultrapassa a barreira do discurso. Foi num discurso que o presidente Lula disse, em 2003, ao lançar o programa Brasil Alfabetizado, que o desafio de erradicar o analfabetismo era "muito menos de dinheiro" e "muito mais de disposição política". Quatro anos depois, o MEC, ao constatar os pífios resultados do programa, decidiu reformulá-lo.
A erradicação do analfabetismo em quatro anos era a meta mais ambiciosa de Lula na educação. Para isso, o governo prometeu alfabetizar 20 milhões de brasileiros. Até 2005, no entanto, a Pnad, do IBGE, indicava que a redução no número de analfabetos em três anos foi de apenas 213 mil. Dá 1% da meta.
Se o país, para além do discurso, levasse educação a sério, o ministro da Educação seria cobrado diariamente por esse fracasso.
O presidente Lula pediria desculpas e admitiria, ao seu estilo, que nunca na história do país prometeu-se tanto e atingiu-se tão pouco.
A oposição cobraria explicações, mas reconheceria que, enquanto foi governo, também fracassou.
Os jornais dariam a esse e a outros temas da educação, quem sabe, ao menos 10% do espaço dado à disputa pela presidência da Câmara.
Temos hoje o desafio de educar todas as crianças com qualidade, mas continuamos em dívida com o passado, evidenciada por 14,6 milhões de analfabetos adultos.
Nesta semana, o governo anunciou um programa para acelerar o crescimento, que recebeu merecida atenção de toda a sociedade.
Citamos sempre Coréia do Sul e Irlanda como exemplos. São países que crescem, distribuem renda e dão emprego aos jovens em fábricas de tecnologia de ponta. Para isso, romperam a barreira do discurso e investiram em educação. Acelerar o crescimento passa por aí.


agois@folhasp.com.br

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