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FERNANDO GABEIRA
O plano e as curvas
OS ANTIGOS navegantes usavam mapas equivocados e
chegavam sempre a algum
lugar. Não quero dizer que o plano
do governo seja falso. Nem que
chegará a algum lugar. Proponho
apenas leveza no debate. Afinal,
Lula foi eleito por 58 milhões de
votos. Tem o direito de lançar seu
plano. Resta-nos aplicar a tática da
seleção húngara de 54: jogar e deixar jogar.
O Planalto não escreverá sobre
uma folha em branco. Em caso de
perigo inflacionário, o Banco Central ataca com os juros. Problemas
com a federação? Governadores
reagem.
Sinto a ausência de cortes de gastos. Considero, pela experiência,
que o Estado é grande, caro e ineficiente. Essa preocupação é rotulado de neoliberal. Lula discorda de
cortes de gastos. E disse abertamente na campanha eleitoral. Logo, é um plano de seu governo, com
respaldo nos votos majoritários.
Sinto falta de projetos destinados a atacar a informalidade. Creio
que isso ajudaria a reduzir o déficit
da Previdência.
Minha ajuda: o projeto que legaliza a prostituição. É modesta. Elas
têm energia para ressuscitar alguns mortos. Para empurrar o país,
é preciso mais.
Já existe um boom no mercado
de computadores para as classes
pobres. As medidas do PAC intensificam esse movimento positivo.
Mas não vi ainda como serão gastos
os R$ 4 bilhões do Fundo de Universalização.
A construção civil está com boas
perspectivas. O impulso do governo pode levá-la a um crescimento
respeitável, com repercussão de 1%
no PIB. Estranhei 700 vagas de estacionamento no aeroporto de Belo Horizonte.
Pensava em como
chegar rápido a um nível internacional de segurança no tráfego aéreo. O equipamento do Cindacta 2,
em Curitiba, tem 20 anos...
Alguns lamentam a ausência do
aquecimento e a revolução industrial que provocará. No entanto, as
metas energéticas, hidroalternativas e auto-suficiência no gás natural, pelo menos, apontam no sentido correto.
O que a visão do governo poderia
produzir, baseada transparentemente nas propostas de campanha,
está diante de nós. Outro plano? Só
com eleição e vitória de uma nova
perspectiva.
Os custos da máquina aquecem
os escândalos políticos. Cada vez
que se registra um comportamento
inadequado, vem à tona o ressentimento social com a carga tributária. A corrupção torna-se mais intolerável.
Se valessem boatos de promessas de ministérios, o governo não
poderia ter apenas o PAC. Teria de
produzir também um PAF, um plano de aceleração de fuga.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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