São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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FERNANDO GABEIRA

O plano e as curvas

OS ANTIGOS navegantes usavam mapas equivocados e chegavam sempre a algum lugar. Não quero dizer que o plano do governo seja falso. Nem que chegará a algum lugar. Proponho apenas leveza no debate. Afinal, Lula foi eleito por 58 milhões de votos. Tem o direito de lançar seu plano. Resta-nos aplicar a tática da seleção húngara de 54: jogar e deixar jogar.
O Planalto não escreverá sobre uma folha em branco. Em caso de perigo inflacionário, o Banco Central ataca com os juros. Problemas com a federação? Governadores reagem.
Sinto a ausência de cortes de gastos. Considero, pela experiência, que o Estado é grande, caro e ineficiente. Essa preocupação é rotulado de neoliberal. Lula discorda de cortes de gastos. E disse abertamente na campanha eleitoral. Logo, é um plano de seu governo, com respaldo nos votos majoritários.
Sinto falta de projetos destinados a atacar a informalidade. Creio que isso ajudaria a reduzir o déficit da Previdência.
Minha ajuda: o projeto que legaliza a prostituição. É modesta. Elas têm energia para ressuscitar alguns mortos. Para empurrar o país, é preciso mais.
Já existe um boom no mercado de computadores para as classes pobres. As medidas do PAC intensificam esse movimento positivo.
Mas não vi ainda como serão gastos os R$ 4 bilhões do Fundo de Universalização.
A construção civil está com boas perspectivas. O impulso do governo pode levá-la a um crescimento respeitável, com repercussão de 1% no PIB. Estranhei 700 vagas de estacionamento no aeroporto de Belo Horizonte.
Pensava em como chegar rápido a um nível internacional de segurança no tráfego aéreo. O equipamento do Cindacta 2, em Curitiba, tem 20 anos...
Alguns lamentam a ausência do aquecimento e a revolução industrial que provocará. No entanto, as metas energéticas, hidroalternativas e auto-suficiência no gás natural, pelo menos, apontam no sentido correto.
O que a visão do governo poderia produzir, baseada transparentemente nas propostas de campanha, está diante de nós. Outro plano? Só com eleição e vitória de uma nova perspectiva.
Os custos da máquina aquecem os escândalos políticos. Cada vez que se registra um comportamento inadequado, vem à tona o ressentimento social com a carga tributária. A corrupção torna-se mais intolerável.
Se valessem boatos de promessas de ministérios, o governo não poderia ter apenas o PAC. Teria de produzir também um PAF, um plano de aceleração de fuga.


assessoria@gabeira.com.br

FERNANDO GABEIRA
escreve aos sábados nesta coluna.


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