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TENDÊNCIAS/DEBATES
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) representa uma inovação na política econômica?
SIM
Um PACto pelo Brasil
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA
O PAC representa mudança em
pelo menos três aspectos: na
definição de metas de investimentos, na fixação do que compete ao
Estado no processo e na reintrodução
na gestão por objetivos e projetos e
métodos de acompanhamento da sua
execução. Pode vir a ser o marco de
uma mudança qualitativa da política
econômica vigente. Mas isso vai depender de algumas condicionantes.
Definir metas de investimentos e
prioridades é questão relevante, mas
não suficiente. Há uma interessante
questão teórica econômica de fundo
envolvida: a poupança gera o investimento -visão neoclássica, predominante na corrente principal ("mainstream")- ou o investimento gera
crescimento, sendo a poupança decorrência -visão keynesiana? No primeiro caso, a poupança é um pré-requisito, no segundo, é resultado.
Estou entre os que se alinham à segunda hipótese. No Brasil, claramente, o problema não é falta de poupança, mas de criar as condições para que
a expectativa de crescimento fomente as decisões de investimento.
É preciso carrear parte dos recursos hoje esterilizados no mercado financeiro para os investimentos produtivos. O desafio é aumentar a taxa
de formação bruta de capital fixo,
atualmente em cerca de 21% do PIB,
para, pelo menos, 25%, nível mínimo
para suportar um crescimento econômico continuado de 5% ao ano.
Não se trata de uma questão conjuntural, mas estrutural. O Brasil se
tornou uma das dez maiores economias do mundo no século 20, na industrialização tardia, calcado no nacional-desenvolvimentismo. O modelo de substituição de importações e
o trinômio Estado-capital privado nacional-capital estrangeiro suportou o
crescimento acelerado médio de 7%
ao ano no período 1946-1979.
Após a "década perdida" dos anos
80, o Brasil aderiu ao neoliberalismo
nos anos 90. Perdeu-se aí a visão estratégica de longo prazo, e o país inviabilizou-se, diante da vulnerabilidade externa, tornando-se refém dos
juros elevados. Foi a "construção interrompida", na feliz definição de
Celso Furtado. Nos últimos 26 anos, o
crescimento tem se limitado à média
de apenas 2,5% ao ano.
O PAC, como todo plano, só se materializará na sua execução. Seu sucesso dependerá basicamente de três
principais condicionantes.
A primeira é que haja o comprometimento de todas as áreas governamentais envolvidas na sua implementação. Isso parece óbvio, mas tem
prevalecido uma visão excessivamente departamentalizada da política
econômica, o que compromete o alcance dos objetivos gerais.
A segunda é o comprometimento
dos demais Poderes e o engajamento
dos atores sociais. É preciso um verdadeiro pacto que leve em conta o interesse da nação, acima de objetivos
de curto prazo, visão partidária, vaidades pessoais e interesses setoriais.
A terceira é da coerência e consistência do conjunto da política macroeconômica. As políticas fiscal, monetária e cambial estão claramente na
contramão dessa visão novo-desenvolvimentista sugerida no PAC.
É preciso não confundir continuidade com continuísmo e assumir que
é preciso aperfeiçoá-la. A conseqüência do imobilismo será inviabilizar o
desenvolvimento. O câmbio valorizado, para citar a principal distorção, é
um subsídio às importações e um desestímulo às exportações, à geração
de valor agregado local, aos investimentos, renda e emprego.
Houve avanços nos últimos anos, o
controle da inflação, a redução substancial da vulnerabilidade externa e
das "medidas de exceção". As precondições estão dadas. Falta romper paradigmas, superar dogmas e recriar
um caminho próprio. O ponto de partida dos fundamentos macroeconômicos, externos e domésticos, é o melhor das últimas três décadas. É preciso perder o medo de crescer e tomar
as iniciativas para tanto.
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA, doutor pelo Instituto
de Economia da Unicamp, é professor do Departamento
de Economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de
"Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil".
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