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ANTONIO DELFIM NETTO
O dólar ou a Babel
O IRREQUIETO presidente
francês, Nicolas Sarkozy,
afirmou que, "se fabricamos
em euros e vendemos em dólares,
com o dólar que cai e o euro que sobe, como vamos compensar o deficit de competitividade?" Qual é a
sua solução para o dilema? Como
"o mundo tornou-se multipolar, o
sistema monetário também deve
tornar-se multipolar", proposta
que apresentará na próxima reunião dos G20.
Deixando de lado a ambiguidade
da sugestão, é claro que ele não
pensou seriamente no assunto. Em
primeiro lugar porque as operações comerciais de bens e serviços
não chegam a 5% do movimento de
câmbio mundial. O resto é movimento de capitais em tempo real
(diariamente equivalente ao PIB
brasileiro anual) realizado por
agentes especializados em mercados que funcionam 24 horas por
dia, sete dias por semana...
Em segundo lugar (e se estou
lembrado do meu cálculo combinatório), se cada país tentasse realizar as operações de bens e serviços em sua própria moeda, com 20
países, seria necessário que existissem mercados capazes de estabelecer simultaneamente 190 taxas de
câmbio que obedeçam a 3.420 taxas cruzadas de equilíbrio. Com
170 países (mais ou menos o que
existe no mundo), seria preciso
construir mercados capazes de estabelecer 14.365 taxas de câmbio,
que obedecessem a nada menos do
que 2.413.320 taxas cruzadas de
equilíbrio! Seria a Babel e o paraíso
dos arbitradores.
Por que não vamos diretamente
ao problema, que é: 1º) exigir que o
organismo internacional, a OMC,
obrigue os seus membros a obedecerem seus compromissos (o que
não ocorre com relação à China); e
2º) desestimular o livre movimento de capitais especulativos? Por
que temos de continuar poetizando sobre a substituição do dólar como moeda de referência internacional? Isso um dia vai acontecer
naturalmente (ou artificialmente
com uma "moeda fictícia").
Por definição essa nova moeda deverá: 1º)
ter poder liberatório (ser universalmente aceita); 2º) ter a confiança dos operadores (que devem
manter nelas suas posições futuras); e 3º) ser a moeda em que se
realizam as operações de Bolsa (à
vista e futuro) que estabelecem os
preços internacionais.
Em uma palavra: deverá ter a confiança irrestrita dos agentes econômicos.
A coisa mais ridícula é supor que
a moeda chinesa possa, num horizonte visível, substituir o dólar. Logo a China, que viola todas as regras do comércio internacional e
cujas instituições obedecem ao arbítrio do PC Chinês. A moeda é
uma instituição social apoiada na
confiança. Não pode ser criada por
um ato de vontade!
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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