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AJUSTE PERVERSO
O mercado de trabalho brasileiro continua a evoluir de maneira preocupante. Sob o peso do crescimento muito baixo da economia, a taxa de desemprego se mantém em tendência ascendente, atingindo níveis recordes.
Na região metropolitana de São
Paulo, segundo a Fundação Seade e o
Dieese, neste mês de janeiro não
conseguiram encontrar uma ocupação 18,6% das pessoas com dez ou
mais anos de idade que se dispunham a trabalhar (contingente que
corresponde à população economicamente ativa -PEA). É a proporção
mais elevada apurada num mês de janeiro desde 1985, quando o levantamento começou a ser realizado.
O IBGE também detectou desemprego alto em janeiro nas seis maiores regiões metropolitanas do país:
11,2% da PEA, taxa mais alta que a
observada em dezembro (10,5%) e
em janeiro de 2002 (11,1%).
Não resta dúvida de que o desemprego está muito alto. Mas a debilidade do mercado de trabalho não se
limita à criação insuficiente de ocupações. Devido às condições adversas de negociação salarial produzidas pelo grande desemprego e, ainda, ao repique da inflação, há tempos
o nível real dos rendimentos se mantém em queda progressiva.
Essa corrosão dos salários é, junto
com a alta do dólar, elemento central
para o aumento muito rápido do superávit comercial brasileiro. A queda
dos salários, especialmente drástica
quando medidos em dólares, reforça
a competitividade da produção brasileira, estimulando exportações e desestimulando importações.
A melhora do saldo comercial é o
que tem impedido um agravamento
ainda maior da escassez de dólares.
Mas é evidente que o rebaixamento
dos salários é um mecanismo perverso de ajuste das contas externas.
Por isso mesmo aguarda-se com ansiedade que o governo acelere as iniciativas voltadas a reforçar a competitividade da economia por meio de
inovações e ganhos de produtividade. Para que se possa começar a abrir
mão da competitividade "espúria"
propiciada pela compressão salarial.
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