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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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AJUSTE PERVERSO

O mercado de trabalho brasileiro continua a evoluir de maneira preocupante. Sob o peso do crescimento muito baixo da economia, a taxa de desemprego se mantém em tendência ascendente, atingindo níveis recordes.
Na região metropolitana de São Paulo, segundo a Fundação Seade e o Dieese, neste mês de janeiro não conseguiram encontrar uma ocupação 18,6% das pessoas com dez ou mais anos de idade que se dispunham a trabalhar (contingente que corresponde à população economicamente ativa -PEA). É a proporção mais elevada apurada num mês de janeiro desde 1985, quando o levantamento começou a ser realizado.
O IBGE também detectou desemprego alto em janeiro nas seis maiores regiões metropolitanas do país: 11,2% da PEA, taxa mais alta que a observada em dezembro (10,5%) e em janeiro de 2002 (11,1%).
Não resta dúvida de que o desemprego está muito alto. Mas a debilidade do mercado de trabalho não se limita à criação insuficiente de ocupações. Devido às condições adversas de negociação salarial produzidas pelo grande desemprego e, ainda, ao repique da inflação, há tempos o nível real dos rendimentos se mantém em queda progressiva.
Essa corrosão dos salários é, junto com a alta do dólar, elemento central para o aumento muito rápido do superávit comercial brasileiro. A queda dos salários, especialmente drástica quando medidos em dólares, reforça a competitividade da produção brasileira, estimulando exportações e desestimulando importações.
A melhora do saldo comercial é o que tem impedido um agravamento ainda maior da escassez de dólares. Mas é evidente que o rebaixamento dos salários é um mecanismo perverso de ajuste das contas externas. Por isso mesmo aguarda-se com ansiedade que o governo acelere as iniciativas voltadas a reforçar a competitividade da economia por meio de inovações e ganhos de produtividade. Para que se possa começar a abrir mão da competitividade "espúria" propiciada pela compressão salarial.


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