|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MELCHIADES FILHO
Registro sindical
BRASÍLIA - Afirmar que Lula
anestesiou o sindicalismo no país
talvez seja precipitado. Mas no PT
certamente isso aconteceu. É notável que as questões do emprego tenham ficado em segundo plano,
quando não de fora, do discurso de
Dilma Rousseff e do documento final do congresso do partido.
A palavra sindicato (ou suas variantes) não aparece entre as quase
7.500 do texto que apresenta as diretrizes do PT para o próximo quadriênio. No relatório do congresso
de 2007, havia 50 menções.
A agenda trabalhista do PT pós-Lula resume-se ao "compromisso
com a defesa da jornada de 40 horas
semanais, sem redução de salários".
Proposta, sabe-se, que não recebe o
endosso do presidente, de sua candidata e da cúpula partidária. Foi
incluída "só para constar".
(Como também é insincera a defesa da diminuição da jornada de
trabalho que governistas têm feito
no Congresso, manobra que visa tirar o foco dos projetos de lei que
atrelam a remuneração das aposentadorias ao salário mínimo.)
Lula domesticou as centrais, e sobretudo a petista CUT, com a distribuição de dinheiro público. Desfalcou-as, nomeando seus líderes para
cargos no governo. E tirou-lhes as
principais bandeiras (garantiu ganhos reais para o mínimo, valorizou
o funcionalismo, engavetou a reforma trabalhista etc.).
Daí que no partido só vozes isoladas hoje puxem o samba trabalhista
-como Paulo Paim (RS), que do Senado berra reivindicações no passado vindas dos sindicatos.
Até esses espasmos, porém, têm
prazo de validade. A geração sindicalista de Paim -e de Lula, Olívio
Dutra, Luís Gushiken, Luiz Dulci,
Jacó Bittar etc.- aos poucos deixa a
cena. Mesmo nas regiões industriais que os petistas controlam politicamente, como o Vale dos Sinos
(RS), não têm surgido substitutos à
altura. O PT do futuro parece pertencer à burocracia formada dentro
do governo e fundos de pensão.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Ruína em construção Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Sabá Índice
|