São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

Próximo Texto | Índice

Comércio varejista

Apesar de escândalos em série no governo Lula, não houve nenhum avanço no modo de preencher os cargos federais

O LOTEAMENTO dos ministérios com vistas ao segundo mandato do presidente Lula está chegando ao fim. Fechado o armazém atacadista do Planalto, está aberta a temporada de caça aos postos de varejo, no segundo escalão e nas estatais.
Discute-se a entrega dos portos ao PSB de Ciro Gomes, mas o PR, que inflou na expectativa de receber a pasta dos Transportes com "porteira fechada", resiste. PMDB e PT já avançam sobre as diretorias do Banco do Brasil, da Caixa e da Casa da Moeda.
Petistas querem a presidência e a manutenção de mais duas vice-presidências do BB. Peemedebistas não deixam por menos e almejam pelo menos dois postos na cúpula do banco. Se a Caixa desperta menos cobiça, é apenas porque a partilha vigente entre PT, PMDB e PTB é considerada satisfatória pelos caciques.
Os gerentes do varejão lulista são Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo (Planejamento) e Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais). "Foram designados pelo presidente para integrar o grupo que fará o acerto com os partidos assim que a reforma ministerial for concluída", declarou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves.
Sinal dos tempos, as implicações nefastas de nomeações políticas em empresas estatais já não afligem os operadores partidários. "Experiência ruim foi no passado, quando os bancos não davam lucro. O resto foram casos isolados", afirmou Cândido Vaccarezza, notória figura do aparelho petista que debuta na Câmara federal.
Os "casos isolados" envolveram um diretor dos Correios em flagrante de corrupção, o diretor de Marketing do BB e o presidente da Casa da Moeda no esquema de Marcos Valério, o presidente da Caixa na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, um diretor da área de risco do BB na trama do dossiê contra políticos tucanos.
É uma tragédia para a democracia brasileira que a mais aguda seqüência de desmandos políticos dos últimos anos não tenha gerado nenhum avanço no modo de preencher os cargos federais.
A agenda modernizadora foi varrida para debaixo do tapete tão logo a popularidade de Lula recuperou-se das pancadas sucessivas. Foram esquecidos imperativos como o de limitar drasticamente os postos federais de livre provimento e o de privatizar ou conceder à iniciativa privada antros de desmandos e ineficiência, como os portos.
Esse filão do Estado brasileiro continuará imerso no atraso pelo menos até a próxima crise.


Próximo Texto: Editoriais: 50 anos depois

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.