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50 anos depois
A EUROPA vive um dilema.
Não sabe se festeja ou se
deplora o cinqüentenário
do bloco europeu, marcado por
solenidade no último domingo
em Berlim que lembrou a assinatura do Tratado de Roma.
Há de fato tanto razões para júbilo como para desconfiança, dependendo do olhar que se aplique. Para os que adotam uma
perspectiva histórica, a União
Européia (UE) é um sucesso.
No espaço de algumas décadas,
o bloco logrou reunir inimigos
que poucos anos antes lutavam
em lados diferentes das trincheiras e levá-los a um grau inaudito
de interdependência econômica.
Dos US$ 2,5 trilhões exportados
por integrantes da UE em 2005,
dois terços se deram entre países
do bloco.
Tamanha integração não apenas reduziu a possibilidade de
conflitos bélicos entre Estados
membros como ainda permitiu o
rápido desenvolvimento dos países mais atrasados. Foi bem este
o caso da Espanha e de Portugal.
O próprio ritmo da progressão
da UE atesta seu êxito. Os seis
membros originais se tornaram
12, que logo passaram a 15. Agora, com a recente abertura para o
leste, os países membros já chegam a 27, com 13 deles operando
sob uma moeda comum, o euro.
As razões dos chamados eurocéticos não são piores. Olhando
para o futuro, os desafios são
tantos e tamanhos que as perspectivas parecem sombrias.
O bloco expandiu-se rápido demais. A sistemática de só tomar
decisões por consenso, que já dava sinais de esgotamento com 15
membros, dificilmente vai funcionar com 27. E a proposta de
Constituição européia, que previa novas regras de operação do
bloco, sofreu revés depois que foi
rejeitada em plebiscito em 2005
por franceses e holandeses.
Parece haver um divórcio entre as posições de políticos europeus, majoritariamente pró-UE,
e das populações, que dão sinais
de insatisfação com a transferência progressiva de soberania para
Bruxelas. É crescente também o
descontentamento com os gastos da União, que mantém uma
máquina de 300 mil funcionários desempenhando tarefas burocráticas tidas por inúteis -como traduzir todos os documentos da UE para 23 idiomas.
O impasse provocado pela rejeição da Carta prossegue, e a
proposta alemã de avançar no
processo de ratificação parece
mais a expressão de um desejo
do que uma aposta racional.
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