São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

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50 anos depois

A EUROPA vive um dilema. Não sabe se festeja ou se deplora o cinqüentenário do bloco europeu, marcado por solenidade no último domingo em Berlim que lembrou a assinatura do Tratado de Roma.
Há de fato tanto razões para júbilo como para desconfiança, dependendo do olhar que se aplique. Para os que adotam uma perspectiva histórica, a União Européia (UE) é um sucesso.
No espaço de algumas décadas, o bloco logrou reunir inimigos que poucos anos antes lutavam em lados diferentes das trincheiras e levá-los a um grau inaudito de interdependência econômica. Dos US$ 2,5 trilhões exportados por integrantes da UE em 2005, dois terços se deram entre países do bloco.
Tamanha integração não apenas reduziu a possibilidade de conflitos bélicos entre Estados membros como ainda permitiu o rápido desenvolvimento dos países mais atrasados. Foi bem este o caso da Espanha e de Portugal.
O próprio ritmo da progressão da UE atesta seu êxito. Os seis membros originais se tornaram 12, que logo passaram a 15. Agora, com a recente abertura para o leste, os países membros já chegam a 27, com 13 deles operando sob uma moeda comum, o euro.
As razões dos chamados eurocéticos não são piores. Olhando para o futuro, os desafios são tantos e tamanhos que as perspectivas parecem sombrias.
O bloco expandiu-se rápido demais. A sistemática de só tomar decisões por consenso, que já dava sinais de esgotamento com 15 membros, dificilmente vai funcionar com 27. E a proposta de Constituição européia, que previa novas regras de operação do bloco, sofreu revés depois que foi rejeitada em plebiscito em 2005 por franceses e holandeses.
Parece haver um divórcio entre as posições de políticos europeus, majoritariamente pró-UE, e das populações, que dão sinais de insatisfação com a transferência progressiva de soberania para Bruxelas. É crescente também o descontentamento com os gastos da União, que mantém uma máquina de 300 mil funcionários desempenhando tarefas burocráticas tidas por inúteis -como traduzir todos os documentos da UE para 23 idiomas.
O impasse provocado pela rejeição da Carta prossegue, e a proposta alemã de avançar no processo de ratificação parece mais a expressão de um desejo do que uma aposta racional.


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