São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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Editoriais

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Paciente 23225

IDENTIFICADA nos prontuários médicos pelo número 23225, uma adolescente de 15 anos, descrita como "inteligente, agressiva, indisciplinada, sem respeito, fria e calculista", é vítima do despreparo do Estado para lidar com pessoas que sofrem distúrbios psíquicos.
É difícil saber em que medida características congênitas, maus tratos, abandono e o próprio "tratamento" a que vem sendo submetida se combinam para provocar o seu comportamento. Internada aos 4 anos em um abrigo para crianças desestruturadas, ela tem ataques de fúria, quebra objetos, agride pessoas.
Só veio a conhecer a mãe, viciada em crack, aos 7 anos. A avó não quer tê-la em casa. E os abrigos se negam a acolhê-la.
Um deles conseguiu de um juiz, há quatro anos, a ordem para que 23225 fosse internada no Pinel, o simbólico hospital psiquiátrico paulista. Se há um lugar onde não deveria estar, é ali. A menina não é psicótica, não ouve vozes nem tem visões.
Por anos o diretor do Pinel buscou alternativas, sem sucesso. A prefeitura agora afirma já ter conseguido vaga em uma instituição apropriada e que "prepara" a sua transferência.
Ainda que se retire a menina do Pinel, ela já terá sofrido danos irreparáveis. Como ela, muitas outras pessoas não encontram o atendimento adequado, que cabe ao Estado prover. Resta a internação ou os cuidados da família. As alternativas não parecem suficientes para a menina 23225.


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