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Editoriais
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Paciente 23225
IDENTIFICADA nos prontuários
médicos pelo número 23225,
uma adolescente de 15 anos,
descrita como "inteligente,
agressiva, indisciplinada, sem
respeito, fria e calculista", é vítima do despreparo do Estado para lidar com pessoas que sofrem
distúrbios psíquicos.
É difícil saber em que medida
características congênitas, maus
tratos, abandono e o próprio
"tratamento" a que vem sendo
submetida se combinam para
provocar o seu comportamento.
Internada aos 4 anos em um
abrigo para crianças desestruturadas, ela tem ataques de fúria,
quebra objetos, agride pessoas.
Só veio a conhecer a mãe, viciada em crack, aos 7 anos. A avó
não quer tê-la em casa. E os abrigos se negam a acolhê-la.
Um deles conseguiu de um
juiz, há quatro anos, a ordem para que 23225 fosse internada no
Pinel, o simbólico hospital psiquiátrico paulista. Se há um lugar onde não deveria estar, é ali.
A menina não é psicótica, não
ouve vozes nem tem visões.
Por anos o diretor do Pinel
buscou alternativas, sem sucesso. A prefeitura agora afirma já
ter conseguido vaga em uma instituição apropriada e que "prepara" a sua transferência.
Ainda que se retire a menina
do Pinel, ela já terá sofrido danos
irreparáveis. Como ela, muitas
outras pessoas não encontram o
atendimento adequado, que cabe ao Estado prover. Resta a internação ou os cuidados da família. As alternativas não parecem
suficientes para a menina 23225.
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