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Editoriais
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Dados sem máscara
Confrontada com o aumento de
furtos no seu bairro, uma associação de moradores cobra das autoridades providências e explicações sobre o fenômeno.
Percebendo, em outro local, a
melhoria nos índices de segurança, um cidadão pleiteia junto à seguradora melhores condições na
renovação do seu contrato.
Homicídios crescem subitamente em determinada região da
periferia: será a influência de novos grupos de extermínio compostos por membros da PM, tais como
os denunciados em relatório recente da Polícia Civil?
De grandes planos para investimentos imobiliários a singelas atitudes pessoais de precaução, passando por suspeitas sobre o comportamento das próprias forças de
segurança, é ampla a escala de decisões que podem ser tomadas
mais racionalmente quando o
acesso aos dados sobre criminalidade está ao alcance de todos.
O mecanismo é corriqueiro numa cidade como Londres, que disponibiliza pela internet um mapa
detalhando, bairro a bairro, a incidência de cada tipo de crime (homicídio, violência doméstica, assalto, homofobia) e sua variação
ao longo do tempo. Mais que isso,
toma-se a iniciativa de avisar, nas
estações do metrô por exemplo, se
a região visitada apresenta riscos
especiais ao transeunte.
Finalmente as autoridades do
Estado de São Paulo dispõem-se a
seguir tal modelo. A partir de 15 de
abril, estarão disponíveis as estatísticas sobre criminalidade, atualizadas mês a mês, relativas a cada
delegacia de polícia. "No futuro",
promete o governador Geraldo
Alckmin, "as divulgações serão
até por bairro".
Por vários anos, o poder público
vinha sonegando esse tipo de informação, sob o argumento de
que os dados se prestariam a mau
uso. Trariam não só medo, mas
também danos à autoestima dos
moradores e desvalorização de
imóveis em algumas regiões.
Ninguém está a salvo, certamente, de cometer erros na análise de estatísticas públicas. Mas o
fato de serem públicas já diz tudo.
Sua divulgação não pode estar ao
sabor das conveniências das autoridades -que decidem, no mínimo, a que números dar destaque e
que dados mascarar-, mas sim
dos interesses de todo cidadão.
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