São Paulo, domingo, 27 de março de 2011

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Editoriais

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Dados sem máscara

Confrontada com o aumento de furtos no seu bairro, uma associação de moradores cobra das autoridades providências e explicações sobre o fenômeno.
Percebendo, em outro local, a melhoria nos índices de segurança, um cidadão pleiteia junto à seguradora melhores condições na renovação do seu contrato.
Homicídios crescem subitamente em determinada região da periferia: será a influência de novos grupos de extermínio compostos por membros da PM, tais como os denunciados em relatório recente da Polícia Civil?
De grandes planos para investimentos imobiliários a singelas atitudes pessoais de precaução, passando por suspeitas sobre o comportamento das próprias forças de segurança, é ampla a escala de decisões que podem ser tomadas mais racionalmente quando o acesso aos dados sobre criminalidade está ao alcance de todos.
O mecanismo é corriqueiro numa cidade como Londres, que disponibiliza pela internet um mapa detalhando, bairro a bairro, a incidência de cada tipo de crime (homicídio, violência doméstica, assalto, homofobia) e sua variação ao longo do tempo. Mais que isso, toma-se a iniciativa de avisar, nas estações do metrô por exemplo, se a região visitada apresenta riscos especiais ao transeunte.
Finalmente as autoridades do Estado de São Paulo dispõem-se a seguir tal modelo. A partir de 15 de abril, estarão disponíveis as estatísticas sobre criminalidade, atualizadas mês a mês, relativas a cada delegacia de polícia. "No futuro", promete o governador Geraldo Alckmin, "as divulgações serão até por bairro".
Por vários anos, o poder público vinha sonegando esse tipo de informação, sob o argumento de que os dados se prestariam a mau uso. Trariam não só medo, mas também danos à autoestima dos moradores e desvalorização de imóveis em algumas regiões.
Ninguém está a salvo, certamente, de cometer erros na análise de estatísticas públicas. Mas o fato de serem públicas já diz tudo. Sua divulgação não pode estar ao sabor das conveniências das autoridades -que decidem, no mínimo, a que números dar destaque e que dados mascarar-, mas sim dos interesses de todo cidadão.


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