São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2005

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ANTONIO DELFIM NETTO

Inflação: nenhum progresso sistemático

Na última semana, a tensão pré-Copom manifestou-se largamente, numa divisão interessante entre os "especialistas" em previsões e os exegetas do "bancocentralês". Teve antecipação para todos os gostos: permanência da taxa Selic, aumento de 25 pontos e aumento de 50 pontos. Mas praticamente todos, diante das evidências mais recentes, prognosticaram o "fim do aperto monetário", porque "a acumulação de aumentos dos últimos sete meses já se faz sentir na redução do ritmo de crescimento e a expectativa sobre a meta está em intervalo aceitável".
Mas há mesmo na taxa de inflação acumulada no primeiro semestre de 2005 uma indicação de que a inflação esteja caindo? A tabela mostra a taxa de inflação (IPCA) no primeiro trimestre de cada ano entre 1999 (depois da desvalorização cambial e a posterior introdução do sistema de metas inflacionárias) e 2005.



Temos dois primeiros trimestres destoantes: em 1999, quando foi introduzida a flutuação cambial, a agressiva política de juros do Banco Central e o aumento do superávit primário fizeram a taxa de inflação convergir para a média (0,58% ao mês), e, em 2003, quando houve a passagem do governo FHC para o governo Lula. Em novembro/ dezembro de 2002, a taxa de inflação anualizada andava às voltas de 25% a 30%. No finalzinho do mandato, o Banco Central aumentou o juro (até então mantido baixo devido ao processo eleitoral). O movimento foi reafirmado de forma agressiva no primeiro mês do novo governo, reforçado com um aumento substancial do superávit primário. Em maio, a inflação de 2003 e as expectativas para 2004 já convergiram para 7,2% ao ano. Cada vez que agiu agressivamente, ajudado por um aumento do superávit fiscal (em 1999, pela primeira vez o governo FHC realizou o superávit de 3,5%), o Banco Central logrou trazer a inflação de volta à sua média.
Eliminadas aquelas observações, a tabela não parece confirmar qualquer redução da taxa de inflação dos primeiros trimestres dos últimos sete anos. Também não permite afirmar que ela tenha aumentado (média de 1,29% de 2000 a 2002 para média de 1,82% de 2004 a 2005) devido à sua alta variabilidade.
A conclusão é que, observado o primeiro trimestre de 2005, não se fez nenhum progresso na redução da taxa de inflação. O que se conseguiu foi, nos momentos de grande desequilíbrio, reconduzi-la à média de 0,58% ao mês (7,2% ao ano) vigorante desde 1999 pela combinação da política monetária com o aperto fiscal.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br


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