|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Transparência
RIO DE JANEIRO - Moda é moda desde que o mundo roda. No momento,
os clichês mais batidos na mídia, na
política, na sociedade em geral, podem ser resumidos a três: ética, credibilidade e transparência. Quem possui os três é uma vestal, um varão de
Plutarco, uma reserva moral da nação, sendo que alguns, devido à idade, chegam ao ponto de serem conservas, compotas viscosas como as de
pêssego ou de mamão.
Das três, somente a transparência
pode ser medida objetivamente. Ética muda de tempos em tempos, de
profissão em profissão, de pontos de
vista e conveniências pessoais. Credibilidade pode ser escamoteada, depende de um processo, de provas
muitas vezes macetadas.
A transparência merece o pleonasmo de ser mesmo transparente. Todos a invocam: governantes, instituições, pessoas físicas e jurídicas. Apesar de tanto e tamanhamente invocada, ela é raríssima, sobretudo entre
pessoas públicas que são obrigadas,
por temperamento ou por cálculo, a
mostrar apenas o lado iluminado, como a Lua, escondendo as trevas do
outro lado.
Neste particular, embora desagradando a totalidade da opinião pública, cito como exemplo de transparência o malhado presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Não me lembro de nenhum político importante
que tenha aberto o jogo de forma tão
transparente, sem temer as bordoadas que recebe diariamente, vinda de
todos os cantos e modos. Guarda dinheiro no colchão, nomeia parentes
que considera capazes, assume aquilo que todos praticam, de uma forma
ou outra, sob disfarces técnicos ou estratégicos, ou seja, o fisiologismo que
predomina na vida pública nacional.
Para citar só um caso, basta lembrar
a emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC e que poderá
dar a Lula um segundo mandato. O
que corre de toma-lá-dá-cá cria uma
teia de favores e desfavores que permanece submersa na face oculta da
impropriamente chamada vida pública, que, na realidade, se transforma em interesse privado de cada um.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Os traseiros de cada um Próximo Texto: Antonio Delfim Netto - Inflação: nenhum progresso sistemático Índice
|