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CLÓVIS ROSSI
Renan e a mulher de César
PARIS - Renan Calheiros é inocente até prova em contrário, valha a
obviedade. Inocente do ponto de
vista jurídico, esclareça-se. Mas, do
ponto de vista político, deveria ter
caído naquela história de que à mulher de César se exige não apenas
que seja inocente, mas que pareça
inocente.
O problema no Brasil é que, nos
últimos muitos anos, deixou-se de
aplicar essa regra preciosa.
Vejamos o retrospecto político de
Renan Calheiros. Foi adversário
ferrenho, em Alagoas, de Fernando
Collor de Mello.
De repente, virou um "collorido"
desde a infância, a ponto de ter participado do esquema de lançamento da aventura Collor à Presidência
da República.
Preciso lembrar tudo o que significou essa aventura, seja do ponto
de vista da baixeza utilizada contra
Luiz Inácio Lula da Silva, durante a
campanha, seja do ponto de vista da
corrupção que o levou a ser condenado por falta de decoro?
Lembro só uma história: um dia
de 1992, me tocou conversar com
PC Farias, o tesoureiro da aventura,
no luxuosíssimo hotel Ritz de Barcelona. Queixou-se dos prejuízos
que sua atividade empresarial sofrera com as acusações. Perguntei
com um sorriso irônico se ele ficara
pobre.
Percebeu que eu não estava acreditando no seu sofrimento. Abriu os
braços para mostrar o requintado
salão do hotel, repleto de cristais, e
respondeu, cínico: "Você acha que
quem pode se hospedar aqui está
pobre?".
Renan Calheiros pode não ter se
beneficiado do esquema, mas conviveu com ele gostosamente, alegremente. Portanto, não cumpre o
requisito exigido da mulher de César. Não obstante, seus pares e os
governos Lula e FHC (de quem foi
ministro) aceitaram-no assim mesmo. A prudência pediria certo distanciamento sob pena de todas as
mulheres de todos os césares caírem na boca do povo.
crossi@uol.com.br
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