São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

Passaralho

RIO DE JANEIRO - Volta e meia, nas repartições e escritórios, surge um passaralho, palavra aceita pelo dicionário do Houaiss, designando o furacão que demite uma porrada de empregados. Em geral, por conta de contenção de despesas ou em nome da renovação dos quadros.
De uma forma ou outra, o mercado de trabalho logo se recompõe e a vida continua, os sobreviventes aguardando o próximo passaralho, as vítimas buscando emprego em outras atividades.
Um passaralho tamanho família varre a vida nacional, deslocando as forças da nação para um tipo de atividade policial e novelesca, onde muitos são os suspeitos e poucos os criminosos.
Varrendo os corredores, elevadores, salas e ante-salas do poder, o terremoto inquieta culpados e inocentes. Até que ponto uma gravata ou um passeio de lancha revela corrupção?
O que se sabe é do conhecimento geral: qualquer tipo de serviço prestado aos governos por empresas particulares recebe um acréscimo porcentual no preço da empreitada submetida à licitação regulamentar. O acréscimo é para comprar gravatas e aluguel de lanchas, por conta de despesas relativas ao marketing ou às relações públicas. Os cínicos garantem que tudo tem seu preço, não há almoço grátis.
Numa das brigas da política do Rio Grande do Sul, algumas delas com degolados e degoladores, foi necessária a participação do líder de uma facção liderada por Assis Brasil. Ele sentou-se à mesa dos negociadores, em Pedras Altas, e foi logo dizendo: "Eu tenho um preço!".
Espanto geral. Assis Brasil detalhou o seu preço: "Representação e Justiça!". Com isso, a eternidade do poder de Borges Medeiros foi para o brejo. Não se falou em gravatas nem em passeios de lancha.


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