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CARLOS HEITOR CONY
Passaralho
RIO DE JANEIRO - Volta e meia,
nas repartições e escritórios, surge
um passaralho, palavra aceita pelo
dicionário do Houaiss, designando
o furacão que demite uma porrada
de empregados. Em geral, por conta
de contenção de despesas ou em
nome da renovação dos quadros.
De uma forma ou outra, o mercado de trabalho logo se recompõe e a
vida continua, os sobreviventes
aguardando o próximo passaralho,
as vítimas buscando emprego em
outras atividades.
Um passaralho tamanho família
varre a vida nacional, deslocando as
forças da nação para um tipo de atividade policial e novelesca, onde
muitos são os suspeitos e poucos os
criminosos.
Varrendo os corredores, elevadores, salas e ante-salas do poder, o
terremoto inquieta culpados e inocentes. Até que ponto uma gravata
ou um passeio de lancha revela corrupção?
O que se sabe é do conhecimento
geral: qualquer tipo de serviço prestado aos governos por empresas
particulares recebe um acréscimo
porcentual no preço da empreitada
submetida à licitação regulamentar. O acréscimo é para comprar
gravatas e aluguel de lanchas, por
conta de despesas relativas ao marketing ou às relações públicas. Os
cínicos garantem que tudo tem seu
preço, não há almoço grátis.
Numa das brigas da política do
Rio Grande do Sul, algumas delas
com degolados e degoladores, foi
necessária a participação do líder
de uma facção liderada por Assis
Brasil. Ele sentou-se à mesa dos negociadores, em Pedras Altas, e foi
logo dizendo: "Eu tenho um preço!".
Espanto geral. Assis Brasil detalhou o seu preço: "Representação e
Justiça!". Com isso, a eternidade do
poder de Borges Medeiros foi para o
brejo. Não se falou em gravatas nem
em passeios de lancha.
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