São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

As barcas de Niterói

RIO DE JANEIRO - Assunto recorrente na mídia internacional, a Amazônia continua na agenda dos países mais desenvolvidos desde os tempos de Hitler. Em seu livro ("Mein Kampf"), há referências explícitas à posse da maior floresta do planeta como reserva de matérias-primas e equilíbrio ecológico.
O ponto comum da cobiça mundial é a certeza de que o Brasil e os demais países que formam a região amazônica não possuem técnica, infra-estrutura e capacidade para preservar o grande potencial econômico representado, entre outros valores, pela maior bacia hidrográfica da Terra.
Tornou-se clara a ambigüidade relativa ao problema, que não saiu formalmente da agenda do atual governo, mas sofreu uma meia-trava com a demissão da ex-ministra do Meio Ambiente. Nada contra o novo ministro, pelo contrário, tudo a favor. A questão está um furo acima, no campo conceitual, mas sem o consenso político e operacional que garanta a soberania nacional naquela vasta porção do nosso território. Um abismo entre a intenção e a ação.
Lembro um episódio do passado recente: o Rio se candidatava para sediar uma olimpíada, e aqui chegou um escalão do Comitê Olímpico para avaliar a nossa capacidade de assumir a responsabilidade. Tudo estava dando certo até que um grupo de técnicos examinou a situação da baía de Guanabara -tal como hoje, altamente poluída.
O parecer da comissão foi taxativo: se o Rio não tinha condições de preservar uma baía como a nossa, não merecia sediar um evento da importância de uma olimpíada. Foi uma lambada no orgulho carioca.
Felizmente, a cobiça mundial ainda não chegou ao ponto de pretender internacionalizar a Guanabara. Ainda bem. Mas a Amazônia tem recursos econômicos bem mais tentadores que as barcas de Niterói.


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