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ANTONIO DELFIM NETTO
O Estado não cria recursos
OS TEMPOS turbulentos que
vivemos trazem à tona a insegurança e as incertezas
que cercam o exercício das políticas fiscal, monetária e cambial inspiradas tanto na teoria econômica
hegemônica (o chamado "mainstream") como na de inspiração
keynesiana.
Dois exemplos bastam: 1º) o escandaloso debate público entre o
velho "el maestro", o habilidoso
Alan Greenspan, e o novo e ambicioso secretário do Tesouro dos
EUA, Tim Geithner, que atribui toda a crise à política do Fed. Geithner esqueceu que era membro do
Federal Open Market Commitee
(FOMC), que aprovou aquela
política!
Isso é um sinal claro da qualidade das decisões dos Bancos Centrais, supostamente apoiados na
"ciência" monetária hegemônica;
2º) as fantásticas dúvidas, apoiadas
em modelos keynesianos, das estimativas do valor do multiplicador
das despesas do governo, que vão
de 0,5 a 1,5!
Uma consequência colateral
dessas discussões é a ideia equivocada de que a crise pode encontrar
solução no tamanho do Estado,
quando ela é, de fato, resultado da
sua omissão. O que precisamos, na
verdade, é de um Estado-indutor
que: 1º) utilize de forma eficiente
os recursos que extrai (como imposto) da sociedade e realize a tarefa de fornecer os "bens públicos"
(segurança, justiça, igualdade de
oportunidade etc.) que só ele pode
produzir e 2º) dê aos "mercados" a
garantia e a liberdade para funcionarem e, a partir de uma regulação
bem definida, produzirem livremente os "bens privados".
Assistimos à reencarnação de
uma perigosa ilusão. Frequentemente, nos momentos de dificuldade, as sociedades são seduzidas
pela crença ingênua de que o Estado cria recursos. Na verdade, o melhor que o Estado pode fazer é
reconstruir a coordenação das
atividades econômicas destruída
pela crise, o que ajudará a gerar
recursos.
Estes são criados pela ação do capital humano (a força de trabalho,
sua educação e sua higidez) sobre o
capital físico (a terra, as máquinas,
as estradas, os portos etc.).
A ação direta do Estado pode ajudar investindo (dando emprego)
em bons projetos de infraestrutura
que não comprometam o equilíbrio fiscal no futuro e aumentem a
produtividade do setor privado.
Mas isso é pouco.
Para voltar a crescer temos de
restabelecer o crédito interbancário mais rapidamente do que estamos fazendo. E a melhor maneira
de fazê-lo é dar "conforto" jurídico
adequado aos agentes públicos do
Banco Central para que este possa
utilizar todos os instrumentos monetários ao seu dispor.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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