|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Vale o que está escrito, Obama?
SÃO PAULO - Nunca acreditei muito na "flaflulização" do relacionamento Brasil x Estados Unidos.
Sempre achei que as rusguinhas
(por Honduras, pelas bases na Colômbia, mesmo pelo contencioso
nuclear com o Irã) não eram sérias o
suficiente para turvar um entendimento que está no melhor ponto de
todos os tempos.
O recente acordo militar entre os
dois países só fez consolidar minha
sensação, fruto também de conversas com fontes dos dois lados.
Agora, no entanto, há uma perplexidade do lado de cá com a atitude da administração Obama em relação ao acordo Brasil/Turquia/Irã
que pode passar a um azedume absolutamente desnecessário.
A culpa não é do suposto esquerdismo da política externa brasileira. Um governo que tem parceria
estratégica tanto com os Estados
Unidos como com a União Europeia
-os dois baluartes do capitalismo- não pode, por definição, ter
uma política esquerdista.
Aliás, se eu fosse de esquerda radical, até diria que Lula foi pau-mandado de Barack Obama no
acordo que teceu no Irã, junto com
a Turquia. Tudo o que consta do
acordo estava solicitado por Obama na carta que enviou a Lula, pouco antes de o presidente brasileiro
viajar a Teerã. Nada saiu do
"script".
Logo, a reação norte-americana
(é verdade que mais de Hillary Clinton que de Obama) só pode mesmo
provocar perplexidade em Brasília.
Leia, por favor, em Mundo a
comparação entre o acordo e a carta de Obama para comprovar por
você mesmo se há ou não boas razões para perplexidade.
Torço para que tenha razão Farideh Farhi, do Departamento de
Ciência Política da Universidade do
Havaí, que, em entrevista para o
Council on Foreign Relations, diz
que a reação de Washington "é o tipo de teatro que os EUA acham necessário antes de se engajar em negociações com os iranianos".
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Monopólio da imagem
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O país do futebol Índice
|