São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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TURBULÊNCIA RENITENTE

O Banco Central julga a instabilidade recente do mercado financeiro temporária e apenas aguarda uma normalização para reduzir a taxa de juros básica. É o que afirma a ata, divulgada ontem, da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) realizada na semana passada, na qual se decidiu autorizar o presidente do BC a reduzir a taxa de juros a qualquer momento, antes mesmo da reunião de 17 de julho.
Mas o que se viu, ontem, foi mais uma rodada de forte instabilidade nos mercados, com alta do risco-país e do dólar. A causa, desta vez, parece ter sido sobretudo externa ao Brasil: a revelação de que funcionários da WorldCom, gigantesca empresa de telecomunicações que controla a Embratel, cometeram uma fraude contábil no valor de US$ 3,8 bilhões, o que inflou artificialmente os resultados da empresa.
Além de reforçar a impressão de que a WorldCom está perto de entrar em concordata -impressão também reforçada pelo anúncio, simultâneo, de que 17 mil funcionários serão demitidos-, o escândalo reavivou os temores suscitados pelo caso Enron. A credibilidade das demonstrações financeiras das grandes corporações sofreu novo abalo.
Esse desgaste de credibilidade se soma à redução da confiança dos consumidores dos EUA, que aprofundou as dúvidas quanto à força da retomada da economia norte-americana e às perspectivas dos lucros das corporações. Se os lucros caírem, as ações das empresas poderão cair. Tudo isso tende a reforçar a aversão ao risco dos investidores internacionais. Isso significa que eles tenderão a priorizar aplicações consideradas mais seguras, o que agrava as dificuldades de países emergentes -considerados de maior risco- que precisam atrair muitos dólares para fechar suas contas externas.
É o caso, como se sabe, do Brasil. Enquanto perdurar tão elevada a vulnerabilidade das contas externas, a normalização esperada pelo BC não dependerá, nem de longe, apenas do que ocorre no Brasil.


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