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OTAVIO FRIAS FILHO
Os mais iguais
Os indícios reunidos pelo Ministério Público sugerem que a conversão do PT em partido "convencional", semelhante aos demais, é um
processo que não apenas está em curso mas se encontra em estágio muito
mais avançado do que seria razoável
supor. Já não se pode dizer que seus
métodos de financiamento eleitoral
sejam diferentes.
O roteiro é conhecido em qualquer
democracia eleitoral. Custa caro vencer eleições. Monta-se um esquema
pelo qual empresas contribuem, de
bom grado ou não, para o caixa eleitoral paralelo em troca da expectativa de
serem aquinhoadas pelo governante
eleito com contratos vultosos e outras
vantagens.
É só uma questão de tempo para que
certos intermediários de tais operações passem a irrigar não só as finanças do partido mas as suas próprias.
Seria prematuro avaliar o nível de deterioração moral do esquema petista.
Não resta muita dúvida de que a "modelar" gestão em Santo André (SP) era
o foco de onde o esquema estendia
seus tentáculos.
Com exatidão quase cronológica, o
PT vem repetindo passo a passo o percurso pelo qual se formou a social-democracia na Europa, há cerca de um
século. Num primeiro momento, trata-se de um movimento operário
agressivo e radical, que se coloca não
raro fora da legalidade para obter conquistas que sua posição na economia
lhe permite impor.
Numa segunda fase, esse movimento se decanta numa organização política que tergiversa entre revolução e
reforma, as duas faces conceituais de
sua existência bifronte, voltada, por
um lado, para a militância social extraparlamentar e inserida, por outro,
na rotina partidária das organizações
com representação no Parlamento.
Numa terceira etapa, a conquista de
responsabilidades executivas acarreta
uma performance cada vez mais "moderada", o predomínio da tática sobre
a estratégia e o aumento do controle
da burocracia dirigente sobre o partido como um todo. Os "princípios"
mantêm seu valor de face, mas o que
vale mesmo são as conveniências de
caráter prático.
Nada disso é invenção brasileira. O
leitor interessado vai encontrar o mesmo processo descrito em detalhes na
obra de Robert Michels, autor de texto, hoje clássico, publicado antes da
Primeira Guerra Mundial, no qual o
sociólogo alemão expõe sua "lei de
bronze" das oligarquias partidárias
numa argumentação que nos limitamos a resumir aqui.
No momento, o PT corre dois riscos.
O primeiro, com as óbvias consequências eleitorais, é disseminar-se a
impressão de que sua virada para o
centro implica não somente a adoção
de teses centristas mas também a de
métodos pelos quais os partidos tradicionais merecem o repúdio crônico de
grande parcela da população, para
quem "políticos são todos iguais".
O outro risco é o de desfigurar sua
imagem "alternativa" a troco de nada
caso perca as eleições. Como é sabido
que a política funciona conforme uma
lógica de saturação, que comanda movimentos pendulares, não será surpresa que as facções xiitas, hoje contidas,
se fortaleçam perante a direção que terá levado o partido à quarta derrota.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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