São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

E o céu também

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, a mão do presidente FHC apareceu em close na mídia. Oito anos atrás, durante a campanha eleitoral, a mão estava estendida, bem aberta, mostrando os cinco dedos com energia e prometendo saúde, educação, segurança, trabalho e o céu também.
Novamente aquela mão aparece. Agora quase fechada, mostrando cinco balas disparadas contra a Prefeitura do Rio. Aparentemente não há nexo entre as duas mãos, mas não deixa de ser simbólica a mão quase fechada -outrora tão aberta- mostrando um dos símbolos da crise que atravessamos, a da violência.
Gasta-se tinta e tempo para explicar a violência, mas, somando teses e hipóteses, é evidente que sobra uma verdade: a sociedade está acuada, seja a violência uma decorrência da concentração de renda, do desemprego e da falência do Estado como um todo, seja a violência um componente inarredável da espécie humana -contra o qual nada pode ser feito.
Não me lembro de ter visto a mão de nenhum outro presidente da República mostrando cápsulas deflagradas. Lembro-me da mão de Vargas, suja de petróleo, negando o parecer dos técnicos internacionais de que no Brasil não havia nenhuma gota de petróleo.
Em geral, são mãos de policiais ou de bandidos que aparecem em close, mostrando a prova provada de mais um crime ou atentado.
Seria demência considerar o presidente da República o responsável pessoal pela crise que atravessamos, seja no setor econômico, no social ou no policial. Mas sua inocência não é total. Bastaria configurar uma hipótese de marketing: na campanha de 1994, a foto daquela mão cheia de balas o que significaria?
O certo é que a mão de agora é mais coerente do que aquela mão espalmada que nos prometia tudo e o céu também.



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