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CARLOS HEITOR CONY
E o céu também
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, a mão do presidente FHC apareceu em
close na mídia. Oito anos atrás, durante a campanha eleitoral, a mão
estava estendida, bem aberta, mostrando os cinco dedos com energia e
prometendo saúde, educação, segurança, trabalho e o céu também.
Novamente aquela mão aparece.
Agora quase fechada, mostrando cinco balas disparadas contra a Prefeitura do Rio. Aparentemente não há
nexo entre as duas mãos, mas não
deixa de ser simbólica a mão quase
fechada -outrora tão aberta-
mostrando um dos símbolos da crise
que atravessamos, a da violência.
Gasta-se tinta e tempo para explicar a violência, mas, somando teses e
hipóteses, é evidente que sobra uma
verdade: a sociedade está acuada, seja a violência uma decorrência da
concentração de renda, do desemprego e da falência do Estado como um
todo, seja a violência um componente inarredável da espécie humana
-contra o qual nada pode ser feito.
Não me lembro de ter visto a mão
de nenhum outro presidente da República mostrando cápsulas deflagradas. Lembro-me da mão de Vargas, suja de petróleo, negando o parecer dos técnicos internacionais de que
no Brasil não havia nenhuma gota
de petróleo.
Em geral, são mãos de policiais ou
de bandidos que aparecem em close,
mostrando a prova provada de mais
um crime ou atentado.
Seria demência considerar o presidente da República o responsável
pessoal pela crise que atravessamos,
seja no setor econômico, no social ou
no policial. Mas sua inocência não é
total. Bastaria configurar uma hipótese de marketing: na campanha de
1994, a foto daquela mão cheia de balas o que significaria?
O certo é que a mão de agora é mais
coerente do que aquela mão espalmada que nos prometia tudo e o céu
também.
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