São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

Próximo Texto | Índice

Meta realista

O regime de metas de inflação já está maduro o bastante para absorver algumas medidas que visem a aperfeiçoá-lo

O CONSELHO Monetário Nacional (CMN) deverá estabelecer, na quinta-feira, a meta de inflação para 2008 em 4,5%, mantendo a margem de tolerância em dois pontos percentuais para cima e para baixo. Trata-se dos mesmos parâmetros definidos para 2006 e 2007.
O regime de metas foi instituído em meados de 1999, após a ruptura da âncora cambial. A despeito do elevado preço pago em termos de crescimento e emprego, as taxas de inflação têm caminhado para as metas. Em 2006, as expectativas dos agentes econômicos, divulgadas no boletim "Focus", do Banco Central, sinalizam variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) -que baliza a política- em 4,04%, abaixo do centro da meta de 4,5%. Para 2007, as expectativas indicam o pleno cumprimento da meta, 4,5%.
O "Relatório de Inflação", divulgado pelo BC em março, procurou decompor a variação do IPCA. Em 2001 e 2002, destacou-se a importância da desvalorização cambial para a variação do índice de preços. Em 2003, o principal componente foi a inércia inflacionária, refletindo os efeitos da desvalorização da taxa de câmbio e da deterioração das expectativas durante a eleição presidencial de 2002.
Desde então, exatamente ao contrário do período anterior, a valorização cambial contribuiu decisivamente para a redução da inflação. Diante desse expressivo papel da taxa de câmbio, seja para a inflação, seja para a desinflação, o sistema de metas precisa ganhar flexibilidade ao lidar com as flutuações cambiais, a fim de comprometer menos a geração de emprego e a competitividade das exportações. Como esta Folha vem defendendo, o sistema está maduro para absorver aperfeiçoamentos, a fim de tornar menos rígida a condução da política monetária.
Há várias alternativas em discussão. Pode-se, por exemplo, ampliar o prazo em que o Banco Central persegue a meta, atualmente restrito ao ano-calendário. Nesse caso, o BC pode aceitar uma inflação temporariamente mais alta e fazer a convergência dos preços para a trajetória das metas num prazo de 24 meses. Pode-se adotar uma medida de núcleo de inflação (como a que exclui preços administrados), perseguindo apenas os preços livres -porque os administrados não respondem aos movimentos nas taxas de juros.
Enfim, enquanto não se consegue reduzir a volatilidade da taxa de câmbio, parece pouco sensato ambicionar uma meta de inflação muito mais baixa que a atual. Perseguir objetivos muito ambiciosos implica manter uma política monetária excessivamente apertada, com juros elevados, comprometendo o desempenho da economia e o emprego.
A próxima reunião do CMN seria a oportunidade para o governo introduzir algumas mudanças no funcionamento do regime de metas, iniciando uma transição suave rumo a sistema mais flexível e eficaz. Outra ponto importante que poderia ser discutido seria uma agenda de desindexação dos preços administrados.


Próximo Texto: Editoriais: A favor da educação

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.