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CARLOS HEITOR CONY
Ovo frito
RIO DE JANEIRO - A maioria não
gostou do uniforme do Brasil contra o Japão -a camisa amarela e o
calção branco. Uma combinação estranha, admito. A menos que o Vaticano (cujas cores oficiais são as
mesmas) decida entrar na Fifa, o visual brasileiro do último jogo me
agradou bastante. Chegou a dar
movimentação maior à seleção,
que, na realidade, muito se movimentou em campo.
Futebol se joga nas quatro linhas,
todos sabem disso. Mas há infinitas
linhas que podem decidir uma partida, e a superstição é uma delas.
Houve tempo em que a camisa oficial era azul, cor de Nossa Senhora
de Aparecida, e Zizinho detestava
quando entrava em campo com a
camisa reserva, que, se não me engano, era branca ou cinza.
O ovo frito -mistura de clara e de
gema de ovo- não agradou à torcida, mas o Brasil fez a sua melhor
atuação e, queira o Onipotente
-que tudo pode, como diz o nome- que repita a mesma agilidade,
a mesma garra nos outros jogos.
Tenho vasta experiência em matéria de camisas do meu time.
Durante anos, desde o seu início
como clube de futebol, o Fluminense só usava duas camisas: a tricolor,
que era a oficial, e a branca, que era
a opção quando a camisa do adversário poderia confundir o juiz e a
torcida.
Eu sabia que a camisa oficial dava
azar. Raramente o time vencia
quando a usava, no máximo empatava. Já a camisa branca, com o escudo do clube no peito, fazia maravilhas -os adversários perdiam pênaltis, chutavam na trave, davam
bobeira na defesa, e o Fluminense
sempre vencia.
Num jogo contra o Botafogo, vi o
meu time entrar em campo com a
camisa tricolor. Pensei bem, consultei meus santos protetores e decidi ir embora do estádio.
Ouvi o resultado pelo rádio. Perdemos de seis a zero.
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