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FERNANDO RODRIGUES
Um copo meio vazio
BRASÍLIA - É tolice acreditar em
promessas de políticos sobre transparência. A adoção de práticas mais
abertas é algo atípico no âmbito do
serviço público. A prestação de
contas espontaneamente não existe como um valor estabelecido na
cultura brasileira.
Quando eclodiu a onda de escândalos no Congresso neste ano -já
são mais de 60 casos-, os presidentes da Câmara, Michel Temer, e do
Senado, José Sarney, sacaram rapidamente do coldre o velho discurso
de "transparência total".
Seria má vontade só desprezar os
resultados apresentados. Alguma
coisa foi colocada à disposição na
internet. Mas há ainda um caminho
longo pela frente.
O caso das verbas indenizatórias
é emblemático. Um salário disfarçado, o benefício existe há quase
uma década. O valor mensal é de R$
15 mil (senadores) e varia de R$ 23
mil a R$ 34,2 mil (deputados). Só a
partir de abril deste ano o uso do dinheiro passou a ser divulgado em
detalhes. O passado foi enterrado.
Foram perdoados, por tabela, os sabe-se lá quantos delitos cometidos
no emprego desses recursos. Não se
fala mais a respeito.
Agora, o Senado ameaçou divulgar os nomes e os salários de todos
os cerca de seus 10 mil funcionários. Outra promessa cumprida pela metade. Só apareceram os nomes. Nada de divulgar o valor dos
vencimentos de cada um.
Já é um avanço ter a lista de nomes de quem trabalha no Senado.
Na Câmara, esse documento não
existe para consulta pública.
Nos próximos dias, o Senado promete também permitir consultas
mais avançadas em seu site, com o
cruzamento de nomes e de valores
de despesas. Será mais um degrau
na criação de um mecanismo de cobrança de responsabilidade.
Esses pequenos movimentos ainda representam um copo mais vazio
do que cheio. Mas são bons efeitos
produzidos pela atual crise.
frodriguesbsb@uol.com.br
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