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CESAR MAIA
Ken Starr e Joseph McCarthy
ESCÂNDALOS envolvendo políticos são tão antigos quanto
a própria história. Hoje esses
registros, feitos com imagens, vozes e documentos gravados, são
multiplicáveis ao infinito. Investigados e investigadores são atores
deste drama. Os poderes têm regras para investigar e penalizar.
As pessoas, associações civis e
meios de comunicação podem ser
parte desses processos, investigando, denunciando ou opinando. A
luminosidade dada a certos fatos,
destacando os que investigam, denunciam e acusam, algumas vezes
os atrai para o "estrelato" e o objetivo passa a ser a autoexaltação.
Dois documentários tratam de
situações desse tipo. Um deles, "A
Caça ao Presidente", de H. Tomason e N. Perry, é sobre o promotor
que tratou por anos de escândalos
com Clinton. O outro, "Os Anos
McCarthy", especial da CBS com
Walter Cronkite, é sobre o embate
entre o legendário jornalista Ed
Murrow e o senador McCarthy.
No primeiro, a "estrela" era o
promotor Ken Starr, investigador
pleno da vida de Clinton, das
amantes até o caso Whitewater
(um negócio imobiliário do qual os
Clinton participaram). A busca desesperada por depoimentos terminou com polpudas indenizações às
"namoradas", com um suicídio e a
condenação a dois anos de prisão
de quem nada tinha a ver com nada. Os "namoros" de Clinton não
implicavam em seu impedimento
para governar. O caso Whitewater
terminou em tragédias pessoais
por efeito colateral, sem chegar ao
alvo alucinante de Ken Starr: Bill
Clinton.
O senador Joseph McCarthy
(1950 e 1954) abriu fogo contra tudo e todos os que poderiam ter
qualquer relação com o que ele entendia por comunismo. Fatos de
20 anos antes, mera leitura de jornais sindicais etc., eram evidências
pré-julgadas.
Ed Murrow -com seu foco no
detalhe- destacou dois casos de
pessoas simples incluídas pela
mente doentia de McCarthy: um
tenente, cujo pai e irmã teriam tido
algum contato socialista, foi julgado e expulso da Aeronáutica; uma
servente que teria trabalhado no
setor de decodificação do Pentágono e cujo marido teria comprado,
uma vez, um jornal de esquerda.
Ed Murrow desintegrou as duas
acusações, gerando uma solidariedade ampla com os acusados ("poderia ser qualquer um de vocês").
O tenente foi readmitido. A servente não havia trabalhado no setor -era homônima. Desmoralizado nos dois casos, McCarthy declina e termina denunciado pelos excessos, no próprio Senado. Ed
Murrow, na última locução sobre o
caso, olhando como sempre para a
câmera, em diagonal, de baixo para
cima, arrematou: "A fronteira entre a investigação e a perseguição é
uma linha tênue". Anos depois,
essa mesma máxima serviu para
vestir Ken Starr.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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