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TENDÊNCIAS/DEBATES
A pecuária é a maior inimiga da Amazônia?
NÃO
Meio ambiente e alimentos, juntos para sempre
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA
PARA QUEM observou de perto a
experiência da expansão das
fronteiras agrícolas do Brasil
nos anos 70 e 80, é paradoxal assistir
hoje à criminalização dos heróis de
um passado tão recente.
Quantas e quantas famílias do Sul e
Sudeste brasileiros foram induzidas
por ofertas generosas de incentivos
fiscais e financeiros para se mudarem
para regiões até então inóspitas do
país a fim de implantar novas áreas de
produção agropecuária? Era uma
época em que prevalecia o lema "ocupar para não entregar o território brasileiro", especialmente em relação à
despovoada região amazônica.
Consciência ambiental era privilégio de poucos e exóticos cientistas ou
ativistas, que falavam sozinhos a uma
plateia de descrentes. Os que usavam
os incentivos fiscais da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia se viam obrigados ao desmatamento de 50% da área da propriedade
rural, sob pena de multa por inadimplência do cronograma operacional.
Os ventos mudaram nos últimos 20
anos, e temas ligados às mudanças climáticas ganharam legítima relevância. Práticas ambientais passaram a inspirar novas leis e regras para a atividade econômica, da emissão de gases de veículos ao desmatamento de florestas. Quase nada se faz hoje sem
que se passe pelo crivo dos ambientalistas, transformados subitamente
em salvadores do planeta, enquanto
agricultores e pecuaristas da região
amazônica passaram a ser tratados
como criminosos ambientais.
Hoje, o discurso ambientalista já
não é exclusividade de ninguém, pois
a consciência ambiental tomou conta
de corações e mentes ao redor do
mundo. Mas alguns importantes dilemas continuam abertos, provocando
conflitos entre grupos de interesses
divergentes: Como corrigir os erros
do passado sem criminalizar aqueles
que agiram de acordo com as regras e
leis da época? Como conciliar a necessária expansão da produção de alimentos com a preservação ambiental? Como valorizar economicamente
a floresta, de forma que seja viável a
sua preservação pelos proprietários
rurais da Amazônia?
Só o debate democrático e racional
desses temas poderá trazer respostas
objetivas para os impasses.
Na oportunidade em que se está
promovendo no país ampla revisão
do Código Florestal, as soluções adequadas de zoneamento econômico-ecológico por meio do conceito de bacias hidrográficas, e não mais de propriedade rural individual e contínua,
bem como de garantias de desmatamento zero no bioma amazônico, poderão conciliar e resolver boa parte
dos problemas acima apontados.
Certamente é possível, com um investimento público e privado em modernas tecnologias agrícolas e pecuárias, aumentar de forma exponencial
a produção de alimentos sem que seja
necessário desmatar um hectare sequer de novas áreas florestais.
A Abiec (Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carne),
que reúne 17 empresas produtoras de
carne bovina, responsáveis pelo abate
de cerca de 17 milhões de cabeças de
gado por ano (35% do total no país),
está hoje em dia perfeitamente consciente da importância de preservar o
meio ambiente, bem como de garantir a seus milhões de consumidores,
no Brasil e no exterior, a excelente
qualidade sanitária de seus produtos.
Para tanto, está promovendo, com
seus milhares de fornecedores em todo o país, a adoção de boas práticas sanitárias e ambientais que, em futuro
breve, serão fiscalizadas por sistemas
de rastreamento eletrônico de grande
eficácia e confiabilidade.
Mas resta ainda resolver o grave
problema dos milhares de abatedouros clandestinos que estão espalhados por todo o país e que, além de sonegar impostos, não observam controles sanitários ou ambientais. Cerca
de 19 milhões de cabeças de gado estão submetidas a esse segmento informal de produção de carne bovina,
mas, surpreendentemente, nem os
ministérios da Agricultura e do Meio
Ambiente, nem o Ministério Público
Federal e muito menos as ruidosas
ONG's ambientalistas falam disso,
como se o problema não existisse.
Se é para defender a saúde dos brasileiros e o nosso meio ambiente, convidamos todos esses atores públicos e
privados para que se unam à Abiec
nessa tarefa de combate ao abate
clandestino no Brasil.
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA , 59, economista e
empresário, é presidente da Abiec (Associação Brasileira
das Indústrias Exportadoras de Carne).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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