São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A pecuária é a maior inimiga da Amazônia?

NÃO

Meio ambiente e alimentos, juntos para sempre

ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA

PARA QUEM observou de perto a experiência da expansão das fronteiras agrícolas do Brasil nos anos 70 e 80, é paradoxal assistir hoje à criminalização dos heróis de um passado tão recente.
Quantas e quantas famílias do Sul e Sudeste brasileiros foram induzidas por ofertas generosas de incentivos fiscais e financeiros para se mudarem para regiões até então inóspitas do país a fim de implantar novas áreas de produção agropecuária? Era uma época em que prevalecia o lema "ocupar para não entregar o território brasileiro", especialmente em relação à despovoada região amazônica.
Consciência ambiental era privilégio de poucos e exóticos cientistas ou ativistas, que falavam sozinhos a uma plateia de descrentes. Os que usavam os incentivos fiscais da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia se viam obrigados ao desmatamento de 50% da área da propriedade rural, sob pena de multa por inadimplência do cronograma operacional.
Os ventos mudaram nos últimos 20 anos, e temas ligados às mudanças climáticas ganharam legítima relevância. Práticas ambientais passaram a inspirar novas leis e regras para a atividade econômica, da emissão de gases de veículos ao desmatamento de florestas. Quase nada se faz hoje sem que se passe pelo crivo dos ambientalistas, transformados subitamente em salvadores do planeta, enquanto agricultores e pecuaristas da região amazônica passaram a ser tratados como criminosos ambientais.
Hoje, o discurso ambientalista já não é exclusividade de ninguém, pois a consciência ambiental tomou conta de corações e mentes ao redor do mundo. Mas alguns importantes dilemas continuam abertos, provocando conflitos entre grupos de interesses divergentes: Como corrigir os erros do passado sem criminalizar aqueles que agiram de acordo com as regras e leis da época? Como conciliar a necessária expansão da produção de alimentos com a preservação ambiental? Como valorizar economicamente a floresta, de forma que seja viável a sua preservação pelos proprietários rurais da Amazônia?
Só o debate democrático e racional desses temas poderá trazer respostas objetivas para os impasses.
Na oportunidade em que se está promovendo no país ampla revisão do Código Florestal, as soluções adequadas de zoneamento econômico-ecológico por meio do conceito de bacias hidrográficas, e não mais de propriedade rural individual e contínua, bem como de garantias de desmatamento zero no bioma amazônico, poderão conciliar e resolver boa parte dos problemas acima apontados.
Certamente é possível, com um investimento público e privado em modernas tecnologias agrícolas e pecuárias, aumentar de forma exponencial a produção de alimentos sem que seja necessário desmatar um hectare sequer de novas áreas florestais.
A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), que reúne 17 empresas produtoras de carne bovina, responsáveis pelo abate de cerca de 17 milhões de cabeças de gado por ano (35% do total no país), está hoje em dia perfeitamente consciente da importância de preservar o meio ambiente, bem como de garantir a seus milhões de consumidores, no Brasil e no exterior, a excelente qualidade sanitária de seus produtos.
Para tanto, está promovendo, com seus milhares de fornecedores em todo o país, a adoção de boas práticas sanitárias e ambientais que, em futuro breve, serão fiscalizadas por sistemas de rastreamento eletrônico de grande eficácia e confiabilidade.
Mas resta ainda resolver o grave problema dos milhares de abatedouros clandestinos que estão espalhados por todo o país e que, além de sonegar impostos, não observam controles sanitários ou ambientais. Cerca de 19 milhões de cabeças de gado estão submetidas a esse segmento informal de produção de carne bovina, mas, surpreendentemente, nem os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, nem o Ministério Público Federal e muito menos as ruidosas ONG's ambientalistas falam disso, como se o problema não existisse.
Se é para defender a saúde dos brasileiros e o nosso meio ambiente, convidamos todos esses atores públicos e privados para que se unam à Abiec nessa tarefa de combate ao abate clandestino no Brasil.


ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA , 59, economista e empresário, é presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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