São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Mensagem para a Opep

A decisão da Agência Internacional de Energia (AIE) de liberar 60 milhões de barris de petróleo de reservas estratégicas, no prazo de 30 dias, pegou os mercados de surpresa. O preço da commodity caiu 5% após o anúncio.
Os EUA proverão metade do volume, que será retirado de seu estoque de 727 milhões de barris. O restante virá da Europa e de países asiáticos consumidores.
É a terceira vez que tais reservas são usadas, em toda a história do órgão (criado em 1974 para contrabalançar o poder da Opep, cartel de produtores de petróleo). As outras foram em momentos de interrupção significativa do fornecimento, como a primeira Guerra do Golfo e o furacão Katrina, que afetou a produção dos EUA.
O objetivo declarado pela AIE é compensar parte da perda de 132 milhões de barris causada pelo colapso da produção na Líbia. O total envolvido não é grande (representa menos de um dia de demanda global), mas faz diferença num mercado sob pressão.
Além disso, trata-se de petróleo leve, que pode chegar rapidamente a refinarias de países consumidores, a tempo de evitar um desequilíbrio mais sério no período crítico do verão do hemisfério Norte (quando as viagens de férias inflam o consumo de combustíveis).
Nunca antes ocorrera uma liberação de estoques sem uma crise de grande proporção na oferta. O maior objetivo, e inédito, parece ser agora o de derrubar preços e combater um crescente componente especulativo no mercado. Há o temor de que os preços altos prejudiquem a recuperação econômica, especialmente nos EUA.
Outro elemento marcante é a decisão aparentemente coordenada com alguns dos principais produtores do Oriente Médio (Arábia Saudita, Kuait e Emirados Árabes Unidos). Todos se comprometeram a não reduzir a produção.
A colaboração saudita -único produtor com capacidade ociosa relevante- resulta provavelmente do desejo de dar um recado ao Irã, que se recusou a sancionar um aumento de produção na última reunião da Opep, no início deste mês. Assim, a decisão da AIE foi interpretada como um aviso ao cartel, com velado apoio saudita.
A dinâmica estrutural do mercado, com demanda em expansão nos países emergentes e dificuldades para ampliar a oferta, não será afetada pela decisão da AIE. No médio prazo, o risco é que os preços continuem a subir.
Essa tentativa do Ocidente de limitar as altas de preços é uma inovação importante, porém. No curto prazo, ao menos, poderá conter a especulação altista e os danos à frágil economia global.


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