São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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ABSURDOS DA CRISE

No cenário político e econômico atual, os paradoxos surgem sem parar. O mais recente é o do papel do FMI na crise brasileira.
Normalmente, a ajuda do Fundo é vista como essencial para evitar a piora das crises financeiras. Nos últimos anos, essa idéia foi várias vezes desmentida pela realidade.
Países que recorreram ao Fundo mergulharam em crises ainda mais profundas (caso da Indonésia e da Coréia do Sul em 1997) ou viram suas políticas naufragar logo após concluir acordos com o FMI (como ocorreu no colapso do regime cambial brasileiro em 1999).
O "nonsense" atinge agora novo patamar. Primeiro, a Argentina submergiu na mais grave crise econômica, social e política de sua história, sem que o Fundo ou o governo dos EUA agissem a ponto de evitar o pior. O apoio que veio até agora foi marginal e a crise do peso só piora.
O Brasil segue esse roteiro, com uma agravante. Mais que apoio do FMI ao Brasil, busca-se um acordo no Brasil de apoio à receita do FMI.
Depois de alguns dias no país, a vice-diretora-gerente do Fundo, Anne Krueger, voltou a Washington sem dar nenhum sinal de que a organização logo apoiará o Brasil com um programa de transição. Os mercados, frustrados, levaram o dólar a nova alta sobre o combalido real.
Surge então o novo paradoxo. Como o socorro do Fundo, se vier antes das eleições, cobriria um período já sob o mandato do próximo presidente, um acordo só teria sentido se todos os candidatos subscrevessem esse compromisso com a banca.
Isso significa que antes e acima da possível ajuda do FMI ao país precisa o Brasil, governo e oposição, produzir em poucas semanas a adesão a um ajuste imposto pela instituição, que representa os interesses dos EUA e da comunidade internacional.
Obter tal consenso é hoje algo menos improvável, embora em tempos normais soasse como absurdo. Mas, na crise atual, os absurdos são frequentes e acontecem a toda hora.


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