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ABSURDOS DA CRISE
No cenário político e econômico atual, os paradoxos surgem sem parar. O mais recente é o
do papel do FMI na crise brasileira.
Normalmente, a ajuda do Fundo é
vista como essencial para evitar a
piora das crises financeiras. Nos últimos anos, essa idéia foi várias vezes
desmentida pela realidade.
Países que recorreram ao Fundo
mergulharam em crises ainda mais
profundas (caso da Indonésia e da
Coréia do Sul em 1997) ou viram suas
políticas naufragar logo após concluir acordos com o FMI (como
ocorreu no colapso do regime cambial brasileiro em 1999).
O "nonsense" atinge agora novo
patamar. Primeiro, a Argentina submergiu na mais grave crise econômica, social e política de sua história,
sem que o Fundo ou o governo dos
EUA agissem a ponto de evitar o
pior. O apoio que veio até agora foi
marginal e a crise do peso só piora.
O Brasil segue esse roteiro, com
uma agravante. Mais que apoio do
FMI ao Brasil, busca-se um acordo
no Brasil de apoio à receita do FMI.
Depois de alguns dias no país, a vice-diretora-gerente do Fundo, Anne
Krueger, voltou a Washington sem
dar nenhum sinal de que a organização logo apoiará o Brasil com um
programa de transição. Os mercados, frustrados, levaram o dólar a
nova alta sobre o combalido real.
Surge então o novo paradoxo. Como o socorro do Fundo, se vier antes
das eleições, cobriria um período já
sob o mandato do próximo presidente, um acordo só teria sentido se
todos os candidatos subscrevessem
esse compromisso com a banca.
Isso significa que antes e acima da
possível ajuda do FMI ao país precisa
o Brasil, governo e oposição, produzir em poucas semanas a adesão a
um ajuste imposto pela instituição,
que representa os interesses dos
EUA e da comunidade internacional.
Obter tal consenso é hoje algo menos improvável, embora em tempos
normais soasse como absurdo. Mas,
na crise atual, os absurdos são frequentes e acontecem a toda hora.
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