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O SIVAM NO VAZIO
Foi finalmente inaugurado o
Sivam (Sistema de Vigilância da
Amazônia). Pelo discurso oficial, o
complexo sistema de radares, que
custou US$ 1,4 bilhão, permitirá ao
Brasil "ocupar" a Amazônia. Afirmou-se, entre outras coisas, que o
sistema permitiria um combate "efetivo" ao narcotráfico, o controle das
queimadas e, até, conhecer melhor e
preservar as riquezas da floresta.
Em tese, tudo isso é possível mesmo. Na prática, porém, as coisas são
bastante diferentes. Como a própria
Polícia Federal reconhece, não tem
como atender à nova demanda que
será gerada pelas informações do radar. A divisão regional da PF tem hoje duas aeronaves, uma embarcação
e cem policiais. Para satisfazer ao
que se imagina serão as novas necessidades, a PF precisaria de cinco
aviões, nove barcos e 420 homens.
E a PF é apenas uma das instituições que precisariam ampliar sua
ação devido ao Sivam. Não há razões
para acreditar que as demais estejam
preparadas. Um exemplo: a Aeronáutica, como ocorre com o conjunto das Forças Armadas, passa por
restrições orçamentárias. Não será
surpreendente se ela tiver dificuldades até para adquirir combustível.
A Amazônia tem uma área de aproximadamente 5,2 milhões de km2.
Nela cabe toda a Europa Ocidental e
ainda sobra algum espaço. De nada
adianta saber que há uma aeronave
em atitude suspeita num determinado ponto da floresta, se não houver
meios de interceptá-la. De modo
análogo, é inútil tomar conhecimento de que garimpeiros despejam
mercúrio num rio, se a PF ou o Ibama não tiverem condições de agir.
A escolher entre alternativas lógicas, teria sido provavelmente mais
útil ampliar os efetivos e equipamentos de instituições como a PF sem o
Sivam do que construir o sistema de
radares e não ter condições de atuar
contra ilícitos. Fica a sensação de que
o Brasil gastou um dinheiro que não
tinha para comprar um carrão importado que vai trafegar sobre estradas esburacadas.
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