São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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O SIVAM NO VAZIO

Foi finalmente inaugurado o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Pelo discurso oficial, o complexo sistema de radares, que custou US$ 1,4 bilhão, permitirá ao Brasil "ocupar" a Amazônia. Afirmou-se, entre outras coisas, que o sistema permitiria um combate "efetivo" ao narcotráfico, o controle das queimadas e, até, conhecer melhor e preservar as riquezas da floresta.
Em tese, tudo isso é possível mesmo. Na prática, porém, as coisas são bastante diferentes. Como a própria Polícia Federal reconhece, não tem como atender à nova demanda que será gerada pelas informações do radar. A divisão regional da PF tem hoje duas aeronaves, uma embarcação e cem policiais. Para satisfazer ao que se imagina serão as novas necessidades, a PF precisaria de cinco aviões, nove barcos e 420 homens.
E a PF é apenas uma das instituições que precisariam ampliar sua ação devido ao Sivam. Não há razões para acreditar que as demais estejam preparadas. Um exemplo: a Aeronáutica, como ocorre com o conjunto das Forças Armadas, passa por restrições orçamentárias. Não será surpreendente se ela tiver dificuldades até para adquirir combustível.
A Amazônia tem uma área de aproximadamente 5,2 milhões de km2. Nela cabe toda a Europa Ocidental e ainda sobra algum espaço. De nada adianta saber que há uma aeronave em atitude suspeita num determinado ponto da floresta, se não houver meios de interceptá-la. De modo análogo, é inútil tomar conhecimento de que garimpeiros despejam mercúrio num rio, se a PF ou o Ibama não tiverem condições de agir.
A escolher entre alternativas lógicas, teria sido provavelmente mais útil ampliar os efetivos e equipamentos de instituições como a PF sem o Sivam do que construir o sistema de radares e não ter condições de atuar contra ilícitos. Fica a sensação de que o Brasil gastou um dinheiro que não tinha para comprar um carrão importado que vai trafegar sobre estradas esburacadas.


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