UOL




São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Emprego e crescimento com energia limpa

Ao tomar conhecimento da espantosa taxa de desemprego -13%- anunciada nesta semana pelo IBGE, perguntei a mim mesmo: como estará o desemprego em julho de 2006?
Não escolhi essa data em razão do ano eleitoral. Ao contrário, ela se refere a um indicador técnico para o qual tenho de olhar todos os dias, pois, afinal, esse é o meu ramo de atividade: a oferta de energia.
Alguns indagarão: por que tanta antecedência? Porque as usinas elétricas, em geral, são de construção demorada. Na verdade, três anos é curto prazo para o setor.
Voltando ao quadro do desemprego, costumo ler, nos trabalhos dos economistas, que o PIB do Brasil precisa crescer, no mínimo, 4% ao ano para absorver os que entram anualmente no mercado de trabalho. Com essa taxa de crescimento, o país consegue gerar cerca de 1,6 milhão de empregos novos.
Entretanto, para 2003, as projeções apontam para um crescimento do PIB de apenas 1,5%. O Brasil criará menos da metade dos postos de trabalho de que precisa. É dessa maneira que o desemprego e a informalidade vão se acumulando, ano após ano.
E do lado da energia, qual é o quadro? Com um crescimento do PIB de 1,5% ao ano, há um excedente de 7.000 MW. Essa "folga" nos dá segurança por dois anos ou talvez três.
Há risco de apagão nesse período? Não. Mas o leitor precisa atentar para o fato de que essa folga existe com um crescimento do PIB de 1,5%. Digamos que, em 2004, o PIB venha a crescer 3%. Isso reduziria a folga para apenas um ano. Em 2006, voltariam os apagões e a paralisia no crescimento, como ocorreu em 2001.
Ou seja, o Brasil tem um enorme constrangimento energético para fazer crescer seu PIB, aumentar o emprego e reduzir o desemprego.
A ministra Dilma Rousseff, de Minas e Energia, conhece esse quadro a fundo. É claro que tanto ela como eu -e todos os brasileiros- torcemos e festejamos a redução dos juros, o reequilíbrio da Previdência Social e a racionalização da carga tributária. Só que a festa não pode ser completa. O Brasil precisa desesperadamente de mais energia para dar à sua população uma vida decente.
Nesse terreno, as providências já deveriam ter sido tomadas. No passado recente, a crise energética só foi descoberta quando já instalada. Que não se repita esse erro. O Brasil precisa entrar numa fase de investimentos honestos e bem orientados para a construção da infra-estrutura que é essencial ao seu desenvolvimento.
Oxalá o novo governo desenvolva os esforços certos na hora certa! A idéia da ministra de Minas e Energia para voltar a explorar a água é promissora. A hidroeletricidade é uma alternativa real. O Brasil é privilegiado em energéticos renováveis e não-poluentes, com a vantagem, no caso da água, de ajudar a agricultura irrigada e a piscicultura, duas outras fontes importantes de crescimento. Temos de aproveitar essa chance divina.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Velhos tempos
Próximo Texto: Frases

Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.