São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

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PERIGO MÉDICO

Há poucas ameaças mais graves para a saúde pública do que médicos despreparados. Eles não apenas são de pouco ou nenhum auxílio na hora de tratar uma doença grave como ainda podem fazer intervenções erradas -com conseqüências funestas- quando a patologia não representa um perigo maior para o paciente.
Nesse contexto, são preocupantes as declarações do professor José Antônio Franchini Ramires, diretor-geral do Incor (Instituto do Coração), segundo as quais a realização de um exame para aferir o nível técnico dos médicos que se formam teria resultados "catastróficos". Para além da possibilidade de ocorrerem imperícias mais graves, médicos que não sabem bem o que fazem representam um nada desprezível custo para o sistema de saúde, pois se esmeram em requisitar exames desnecessários e a receitar drogas dispensáveis.
A má formação dos profissionais liga-se, é claro, a muitas causas, mas a mais importante delas parece ser a proliferação de escolas médicas que ocorre sem critérios de excelência ou mesmo de necessidade. O fenômeno é bastante semelhante ao que se deu com o direito e levou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) a instituir o exame de ordem, sem o qual os bacharéis em ciências jurídicas estão impedidos de exercer a advocacia. A palavra "catastróficos" descreve bem os resultados: na última versão da prova em São Paulo, apenas 13% dos candidatos foram aprovados. A média de aprovações nos últimos anos tem ficado em torno de 20%. Segundo Ramires, se houvesse um exame semelhante para a medicina, o quadro seria rigorosamente o mesmo.
Uma vez que os governos -tanto este quanto o anterior- parecem incapazes de conter a multiplicação de faculdades, a idéia de criar um exame de habilitação para a prática da medicina é oportuna. Impedir que pessoas sem qualificação técnica se arrisquem a fazer diagnósticos, prescrever e até operar é elementar medida de saúde pública.


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