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ROGÉRIO GENTILE
Morte em duas rodas
SÃO PAULO - Pelo menos 19 pessoas morrem diariamente em acidentes de moto no Brasil. É como,
se a cada 12 dias, um avião da Air
France caísse no Atlântico. Mas
ainda é um número muito baixo,
perto do que vem por aí.
Contrariando o que pregam dez
entre dez técnicos em transporte
público, governo e Congresso decidiram adotar medidas que estimulam o tráfego em duas rodas -o
mais perigoso que existe, segundo
diversos estudos internacionais.
Primeiro, o Planalto criou uma linha absurda e eleitoreira de crédito
para quem quiser comprar uma
moto. Hoje, com o valor de duas
passagens de ônibus por dia (R$
4,60 em SP), dá para entrar num financiamento e levar uma para casa.
É duro conceber sabotagem pior
para a organização de uma cidade.
Ficou tão fácil adquirir uma moto
que já há estimativas de que em alguns anos as vendas ultrapassarão a
de carros no país -em 2008 foram
1,8 milhão de motocicletas contra
2,2 milhões de carros.
Agora, como se não bastasse, o
Senado acaba de legalizar o serviço
de mototáxi -só falta Lula assinar
para virar lei. Com isso, a previsão é
que haverá 1 milhão de mototaxistas e 20 milhões de usuários dentro
de um ano e meio no país.
É possível imaginar o que isso representará. Segundo o secretário
dos Transportes de São Paulo, Alexandre de Moraes, serão mais de 20
mortes por semana apenas na cidade. Hoje, são nove.
Sem contar que, quanto maior o
número de motos, mais complicado
fica o trânsito, a poluição aumenta
(a moto emite 32 vezes mais poluentes por passageiro que o ônibus
e 17 vezes mais que o carro), cresce
o gasto com combustível etc.
O pior de tudo é que a vietnamização do trânsito ainda ganha apoio
do prefeito Gilberto Kassab, que
disse ter dado sugestões para o
"aperfeiçoamento" de um projeto
que regulamenta o serviço na cidade. Só falta ele retomar a brilhante
ideia de criar corredores de tráfego
exclusivos para motoboys e afins.
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