São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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ROGÉRIO GENTILE

Morte em duas rodas

SÃO PAULO - Pelo menos 19 pessoas morrem diariamente em acidentes de moto no Brasil. É como, se a cada 12 dias, um avião da Air France caísse no Atlântico. Mas ainda é um número muito baixo, perto do que vem por aí.
Contrariando o que pregam dez entre dez técnicos em transporte público, governo e Congresso decidiram adotar medidas que estimulam o tráfego em duas rodas -o mais perigoso que existe, segundo diversos estudos internacionais.
Primeiro, o Planalto criou uma linha absurda e eleitoreira de crédito para quem quiser comprar uma moto. Hoje, com o valor de duas passagens de ônibus por dia (R$ 4,60 em SP), dá para entrar num financiamento e levar uma para casa. É duro conceber sabotagem pior para a organização de uma cidade.
Ficou tão fácil adquirir uma moto que já há estimativas de que em alguns anos as vendas ultrapassarão a de carros no país -em 2008 foram 1,8 milhão de motocicletas contra 2,2 milhões de carros.
Agora, como se não bastasse, o Senado acaba de legalizar o serviço de mototáxi -só falta Lula assinar para virar lei. Com isso, a previsão é que haverá 1 milhão de mototaxistas e 20 milhões de usuários dentro de um ano e meio no país.
É possível imaginar o que isso representará. Segundo o secretário dos Transportes de São Paulo, Alexandre de Moraes, serão mais de 20 mortes por semana apenas na cidade. Hoje, são nove.
Sem contar que, quanto maior o número de motos, mais complicado fica o trânsito, a poluição aumenta (a moto emite 32 vezes mais poluentes por passageiro que o ônibus e 17 vezes mais que o carro), cresce o gasto com combustível etc.
O pior de tudo é que a vietnamização do trânsito ainda ganha apoio do prefeito Gilberto Kassab, que disse ter dado sugestões para o "aperfeiçoamento" de um projeto que regulamenta o serviço na cidade. Só falta ele retomar a brilhante ideia de criar corredores de tráfego exclusivos para motoboys e afins.


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